7.10.10

De lágrimas nos olhos

Por Joaquim Letria

ACABEI de percorrer diversos caminhos europeus para participar em palestras, conferências, debates e reuniões relacionadas com a paz, as relações inter-religiosas e inter-culturais dos povos, dos seus políticos e dos seus Estados.
Foi um intervalo muito prazenteiro na doméstica rotina das minhas modestas tarefas académicas e no estudo e análise da evolução dos media que me preenche a vida.

Um facto me surpreendeu por não o imaginar a esta escala insuspeita e mostrando claras tendências para o seu agravamento próximo: a actual presença maciça de portugueses a trabalhar no que lhes aparece ou preparados para fazerem o que se lhes oferecer. Com uma incomensurável tristeza e desistência de aqui volverem, olhando para trás sem perdão. Vivia eu na Europa durante a grande emigração dos anos 60. Nada tão triste e desgarrado como agora.

Hoje, os nossos jovens emigrantes estão convictos de que em breve serão ainda muitos mais a espalharem-se pelo mundo fora, desesperados pela vergonha de o mundo inteiro ver Portugal a abandonar os seus filhos desta maneira. A gente fala com eles e ficamos, nós e eles, de lágrimas nos olhos. Isso não se sabe cá.

P.S.- Alguns velhos leitores e amigos celebraram um textinho meu que este blogue reproduziu. Já estou velho e demasiado piegas para mimos desses. A todos, muito obrigado!

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8 Comments:

Blogger Bartolomeu said...

E entretanto vamos garantindo saúde, educação, alimentação, habitação, etc, aos imigrantes de países como o Brasil, a Ucrânia, a Coroácia, a India, o Paquistão, as Áfricas, Timor, etc.
Entretanto, vamos gastando do orçamento para manter presos e em condições dignas de saúde alimentação e alojamento, aqueles imigrantes daqueles países que nos assaltam, nos roubam e nos agridem.
Entretanto vamos dando ordens de abandonar o país a esses imigrantes criminosos que, para além de não as respeitarem, reincidem na prática.
Entretanto vamos reforçando as forças policiais, admitindo mais efectivos, gastando mais do orçamento do estado, para manter a ordem, que de dia para dia se torna mais desordem.
Entretanto... vamos mantendo a viver em condições deploráveis, os nossos velhos, aqueles que durante uma vida inteira comeram o pão que o diabo amassou, que ajudaram a construir esta nação de gente a que aquele Senhor de Belem, apelida de "muito generosos".
Tem toda a razão o Joaquim Letria... isto é de fazer chegar as lágrimas aos olhos, até daqueles penedos lá no alto da Serra da Estrela chamados de "cabeça da velha" e "cabeça do velho" e não sei até se da "pedra do urso"...

7 de outubro de 2010 às 20:09  
Blogger GMaciel said...

Segunda-feira, dia 4, aniversário do meu filho. Não apenas mais um aniversário, mas aquele que diz ter ele atingido a maioridade.

Há muito que olho para ele e me pergunto o que vai ser o seu futuro. Há muito que vou tecendo em silêncio a teia dos meus anseios e receios.

É, também, de lágrimas nos olhos que percebo que esse pode ser o devir, é com lágrimas nos olhos que percebo que há muito devia, eu mesma, ter partido em busca de um futuro menos mau.

De lágrimas no olhos, caro Letria, ando eu há muito tempo pelo que sei como doem essas lágrimas.


Abraço

PS do PS: o Letria merece todo o nosso respeito e estima, foi apenas isso que quisemos demonstrar.

7 de outubro de 2010 às 21:16  
Blogger José Batista said...

Caro Joaquim Letria

Não se iniba de nos dar conta dessas lágrimas de sangue que escorrem dos olhos e do coração de tantos portugueses. Lá fora e cá dentro. Como com grande acuidade se vai pressentido, independentemente de se testemunhar ou não... Não para que nos comprazamos na miséria, mas para que não a deixemos ocultar pela propaganda.

Caro Bartolomeu, os imigrantes que vieram para o nosso país são outro caso de lágrimas de sangue, como o são os nossos emigrantes lá fora. A mim doem muito mais os crimes dos incompetentes que nos governam e a acção dos poderosos que barbaramente sugam o país.

Estimada Graça Maciel. Parabéns atrasados pelo aniversário do seu tão amado "menino". Sabe o que lhe digo: mãe que tão estremecidamente "tece em silêncio a teia de anseios e receios" só pode ter sido uma boa mãe. E portanto há muito "partiu" em busca de um futuro menos mau. Como? amando esse filho com tamanha intensidade e preocupação que é bem provável que essa seja a melhor herança que lhe deixa.
E porque emito eu opinião, que ninguém me pediu, sobre assunto tão sensível e pessoal? Ora, porque às vezes não sou capaz de ficar calado...
Mas sou capaz de pedir desculpa, se fui além do que devia.

7 de outubro de 2010 às 23:30  
Blogger FAIRES said...

Caro Joaquim Letria,
Tenho dois filhos um com 18 a iniciar as suas lides no Ensino Superior e outra com 16 que também pensa, quer e espera lá ingressar. Bons alunos, qualquer um deles, para não dizer excelentes e acredite que não é por eu ser Pai que assim falo.
Quando falamos do Futuro, ambos me dizem, quero ir para fora de Portugal , trabalhar.
Em primeiro lugar, a minha resposta é um incentivo á sua partida... e depois penso, porquê, viver num país que "exporta" tanatas e boas "cabeças" para o exterior...
Realmente vivemos num país onde as oportunidades não existem para estes jovens... e é bem pena, dado que o que cá fica ... está à vista... Por isso é com tristeza, mas com um misto de esperança da sua Felicidade que dou este apoio e incentivo aos meus filhos... assim eu os possa sempre ajudar e acompanhar.

8 de outubro de 2010 às 00:03  
Blogger Bartolomeu said...

Caro José Batista, aquilo que pretendi dizer no meu comentário é que; se as fronteiras dos nosso país não tivessem sido tão amplamente abertas à imigração, possívelmente haveria cá dentro, mais oportunidades de emprego para os nossos filhos.
E ainda que, sendo Portugal um país pobre, ou por sina ou por tradição, não se limita acolher as gentes de outros países, proporcinando-lhes melhores condições de vida, mas ainda abandona à miséria, aqueles para com quem tem as maiores responsabilidades.
Penso que já vai sendo mais do que tempo, de os nossos governos olharem para as necessidades dos seus cidadãos antes de se promoverem politicamente nos salões da União Europeia.

8 de outubro de 2010 às 08:12  
Blogger Ribas said...

Eu acho que os empregos que os imigrantes preenchem, não são exactamente aqueles que levariam os nossos emigrantes a permanecer em Portugal.
A maioria destes empregos são precários, mal remunerados e não são sequer (compreensivamente) equacionados pela maioria dos portugueses que procuram entrar no mercado do trabalho.
Nós (ao contrário do que se pensa) estamos necessitados de imigrantes. O seu número tem descido drasticamente, porque o nosso país deixou de ser interessante até para eles.

8 de outubro de 2010 às 10:17  
Blogger GMaciel said...

Amigo José Batista (posso chamá-lo assim?), não peça desculpa pelo bálsamo que me porporcionou. Às vezes precisamos que sejam os outros a dizerem-nos que não podemos carregar uma culpa que não temos,e eu carrego esta de pensar que não fiz o suficiente ou o que deveria ter feito. Não é exclusividade minha, penso que qualquer pai ou mãe sente o mesmo.

Apenas tenho uma certeza: a de que por amor também se erra.

Obrigada.

8 de outubro de 2010 às 12:19  
Blogger José Batista said...

Começo por Graça Maciel:

Que honra grande e contentamento eu sinto por me chamar amigo. Sabe, Graça Maciel, só por escrever o que escreve, assim como se escrevesse directamente com o peito, já eu a tinha feito minha amiga. E já vinha aqui à procura dos seus comentários. É que eu também padeço dessa dor de que se queixa. E penso que, em maior ou menor grau, todos os pais e mães sofrerão desse mal. Por amor também se erra, diz, e é bem verdade. Mas só não erraríamos se fôssemos deuses. E nenhum de nós dois, seguramente, aspirou algum dia a tal condição. Por isso, só nos resta porfiar e continuar a amar com a maior intensidade os nossos filhos e, por extensão, os jovens do nosso país. Mesmo que eles nem sempre o compreendam... Eu acredito que isso, associado à tentativa de ser justo e recto, nos redime das nossas falhas...

Caro Bartolomeu: compreendo o que afirma, e atento sempre com curiosidade no modo como olha a realidade. Mas, nesta matéria, coincido inteiramente com a opinião de Ribas.

E a todos agradeço a oportunidade de poder trocar impressões, e aprender um bocadinho. Não por Vocês me ensinarem pouco, mas porque eu só aprendo (se é que aprendo...) aos bocadinhos...
:)

8 de outubro de 2010 às 23:24  

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