O cão e a raposa
Por João Duque
ERA UMA VEZ, no tempo em que os animais falavam, um bosque muito bonito onde habitavam em perfeita harmonia todos os bichinhos da região: coelhos e coiotes, galinhas e raposas, perdizes e cães de caça.
Um dia, os lenhadores que por lá passaram deixaram uma tabuleta pregada numa das árvores da periferia com o seguinte texto: "Estado Social". E os animais começaram a chamar ao bosque Estado Social. Um dia, resolveram eleger um dos animais para dirigir os trabalhos de limpeza e manutenção da floresta. Candidataram-se ao cargo a raposa e o cão. (...)
ERA UMA VEZ, no tempo em que os animais falavam, um bosque muito bonito onde habitavam em perfeita harmonia todos os bichinhos da região: coelhos e coiotes, galinhas e raposas, perdizes e cães de caça.
Um dia, os lenhadores que por lá passaram deixaram uma tabuleta pregada numa das árvores da periferia com o seguinte texto: "Estado Social". E os animais começaram a chamar ao bosque Estado Social. Um dia, resolveram eleger um dos animais para dirigir os trabalhos de limpeza e manutenção da floresta. Candidataram-se ao cargo a raposa e o cão. (...)
Texto integral [aqui]
Etiquetas: jd
4 Comments:
Vejamos, entre o esbanjamento irracional do chamado Estado Social (a raposa) e o espírito crítico e assertivo do que deve ser o Estado Social (o cão), obviamente que deve prevalecer o segundo.
Mas aqui cria-se uma incógnita perigosa: o que deve ser o Estado Social? A caridadezinha do Estado, género bodo do jornal "O Século" dos tempos de Salazar, ou um serviço digno, estruturado e justo que sirva a todos na justa proporção das suas necessidades?
Como proporcionar, por exemplo, saúde para todos se a mesma está entregue a mercenários que exercem medicina? Porque não regulamentar um número de anos obrigatório no serviço público a todos os que saem das universidades como se faz noutros países?
Como proporcionar educação de qualidade para todos, se a escola está entregue a imbecis travestidos de especialistas? - dá dó ouvi-los cuspirem as suas teorias mirabolantes do eduquês.
Como proporcionar segurança e justiça para todos se na primeira existe desmotivação e ineficiência e a segunda encontra-se ao serviço do corporativismo de Estado?
A não ser que o João Duque considere que nenhum destes serviços, ou apenas alguns, deve estar sob a alçada do Estado?!
O Estado Social não é a gangrena que nos querem fazer crer, a gangrena encontra-se do lado da incompetência, do abuso e da ineficácia fiscalizadora.
Cuidado, muito cuidado com o que se advoga, porque para servir os interesses de quem quer acabar com o Estado Social, basta que não se explique o que se quer e apenas denegrir o que existe e precisa ser mudado.
Nesta ilustrativa fábula daquilo que poderia ser o panorama político de uma nação do extremo ocidental do continente europeu, tenho unicamente dois reparos a assinalar.
1- Se os cães eram de caça, a harmonia entre eles, as raposas, as galinhas, as perdizes e os coelhos, era impossível.
2- Quem se candidatou para dirigir os trabalhos, não foram o cão e a raposa, mas sim, o cão e o lobo.
Daí a origem do ditado popular que diz "cães e lobos... comem todos"
Num bosque exuberante
de vida e de bem-estar
há quem fique delirante
pelo constante embotar.
No “Fungágá da bicharada”
tudo é muito divertido,
mas nesta nação revirada
muito está mal repartido.
Epílogo
Esse oásis perdido
entre abjectas ilusões
é um caso desmedido
de tão mascavadas razões!
Graça, certeira como sempre...
Para mim a fábula acaba de ainda outra forma: o cão continua a protestar pelos sacrifícios que reduziram o Estado Social - mas cada vez mais baixo; a raposa a vangloriar-se de ter mantido o Estado Social com os sacrifícios - cada vez mais alto para abafar a voz do cão. Chegam os homens e vêem um bando de animais a ulular e "espatejar" - levam-nos para um circo.
O Estado Social fica abandonado às formigas e ao lixo que é para lá atirado; os homens de fora ganham dinheiro à conta da estultícia de animais que falavam muito mas nada fizeram para manter o que havia.
Enviar um comentário
<< Home