21.1.11

Escolhas

Por João Paulo Guerra

VOLTO ao estudo de opinião sobre “As escolhas dos portugueses”, na véspera do dia de reflexão para as eleições presidenciais, para destacar indicadores de peso para as escolhas e a participação dos portugueses na vida colectiva.

Dizem os dados apurados no inquérito que, por um lado, os portugueses se mostram mal informados sobre a actual situação do país. Por outro lado, quase metade dos inquiridos afirmam ter pouco interesse na política nacional e na política local. Mas nem sempre foi assim.

A democracia portuguesa teve uma fase criativa, participada e festiva, marcada embora por alguns excessos, como seria inevitável ao cabo de meio século de ditadura. E não falo apenas na original dinâmica de intervenção na vida pública que então se gerou. Falo também nos aspectos formais da democracia. Nas primeiras eleições, para a Assembleia Constituinte, a abstenção andou na casa dos 8 por cento. Nas primeiras legislativas foi da ordem dos 15 por cento e nas primeiras presidenciais andou já perto dos 25 por cento. Entretanto, a pretexto de combater os excessos, o poder instituído cuidou de conter o entusiasmo e a participação populares nas baias de uma democracia representativa. O que aconteceu, a partir daí, é que os eleitores passaram cada vez mais a não se verem representados nos eleitos. E os eleitos sentem-se perfeitamente confortáveis chegando ao poder através do voto de cada vez menos eleitores. Nas eleições mais recentes, a abstenção atingiu a ordem dos 40 por cento e já passou os 60 por cento nas europeias de 1994.

A frustração por políticas seguidas ao arrepio dos compromissos eleitorais é a razão mais corrente para o aumento da abstenção. É disso que a casta política gosta: governantes distantes para governados desinteressados.
«DE» de 21 Jan 11

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