14.1.11

Promiscuidade

Por João Paulo Guerra

TENHO na minha sobrelotada estante, nas prateleiras ocupadas com obras sobre o Portugal que passou à história, um pequeno opúsculo da autoria do dr. Raul Rego, “Os políticos e o poder económico”, com data de 1969, no qual o velho republicano, socialista e ‘maçon’ recenseia e desanca a promiscuidade no trânsito entre as cadeiras do poder e os cadeirões dos conselhos de administração.
O impresso do dr. Rego diz respeito aos últimos anos do auto-denominado Estado Novo, também chamado fascismo. (...)
Texto integral [aqui]

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4 Comments:

Blogger Ribas said...

Dá vontade de deixar este texto e agora é descobrir as diferenças (se as houver):

Sobre Portugal

"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.

Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.

Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.

A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.

Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."


Abílio Guerra Junqueiro, 1896

14 de janeiro de 2011 às 13:37  
Blogger Bmonteiro said...

«40 ministros e secretários de Estado saíram directamente da política para cargos em grandes empresas»
No DN a palavra utilizada era "saltaram" em vez de "saíram" (págª4).
Enviei SMS a fazer por corrigir a expressão:
onde se lê "saltaram",
deve ler-se "assaltaram".
A bem do Regime.
Viva a Revolução.

14 de janeiro de 2011 às 18:53  
Blogger Táxi Pluvioso said...

O país é pequeno, somos todos primos, só não come quem não tem arte, ou... não consegue chegar perto do poleiro.

15 de janeiro de 2011 às 09:36  
Blogger JARRA said...

O assustador é descobrir que a democracia não serve para nada - apesar de se poder publicar nos jornais, as pessoas toleram todas essas situações como normais!
Num país com um nível de cultura cívica normal, os dois principais candidatos à Presidência da Républica, teriam de abandonar a corrida por razões óbvias - em Portugal considera-se que acusar um político de irregularidades ou mesmo crimes, reforça a sua posição!
Se Salazar soubesse nunca teria perdido tempo com a censura!

17 de janeiro de 2011 às 01:21  

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