«A Quadratura do Circo» - «O Grito»
Por Pedro Barroso
Amigos,
A SENSAÇÃO de incomodidade, de insatisfação e descontentamento tomaram as rédeas do nosso quotidiano.
Pelas tertúlias, nos cafés, ao almoço, nos locais de trabalho, nos transportes públicos, nas redes sociais, em família, em todas as estradas e tribunas da vida registamos um acabrunhado sentir, uma tristeza e amargura, uma revolta interior, uma sede de mudança.
É um epifenómeno normal, decorrente duma castração progressiva de ideais, de um sentir fugir a felicidade, de um cinzentismo galopante, de uma profunda sensação de vergonha do passado, humilhação e insegurança no presente e de enorme descrença no futuro.
Verifico, com alguma surpresa, que, apesar das mais díspares consciências cívicas e formações pessoais; apesar de todos nós termos necessariamente opiniões politicas diversas, opções de intervenção variadas e argumentos nem sempre convergentes, cresceu e se regista, não obstante, neste momento uma sintonia na vontade de quebrar amarras.
E sente-se, afinal, uma abrangência enorme nas pessoas em relação a muitos pressupostos fundamentais - os da iniquidade que repudiam; da humilhação que não aceitam e da mudança que desejam. Todos começamos a sentir e ter consciência de que é urgente uma intervenção cívica de grande alcance expressão e dignidade.
Chegamos ao fim da linha da tolerância e da paz social, fundada no eterno discurso do “sacrifício” sempre para os mesmos. Sobretudo por não vermos exemplos que nos cheguem de cima, nem da gestão catastrófica do Estado.
A Europa, não menos tremida nos seus alicerces sócio-económicos, rege os destinos e desígnios do nosso país.
Podíamos estar a discutir hoje com entusiasmo a Educação, o Progresso, a Investigação, a Arte, a Cultura, a Ciência e o avanço tecnológico e social. Em contrapartida, descobrimos temas que, ontem ainda, pouco julgaríamos possíveis, como a incerteza da Segurança social, o agravamento das reformas, o descalabro do PIB, o problema do deficit, a dívida pública ou as classificações ditatoriais das agências de rating internacionais.
Todos sentimos no quadro relativo dos valores e pressupostos que nos oferecem no actual menu de oferta pública politica, o cansaço de um bafio ideológico, impregnado de velhos salitres, com protagonistas sempre repetidos, e sem vontade nem energia para mudar, autistas perante o sentir popular, acomodados em lugares bem pagos, circulando em redoma fechada, acumulando assessorias diversas e quantas vezes com sombras de corrupção e menos clareza no seu enriquecimento.
Raros surgimentos avulsos de algum inegável valor e grande generosidade, por falta de corpo, de organização e de sequência, logo são ultrapassados pelo regresso à nomenclatura sempre dos mesmos, ou dos alternadamente mesmos.
Apetece muitas vezes soprar um novo halo de energia e generosidade. Com causas colectivas muito simples - pelo mérito, pela Ecologia, pela competência, pela requalificação do Ensino, contra os salários faraónicos dos gestores nas empresas do Estado, pela probidade dos homens públicos, pela Cultura em todas as suas vertentes, pelos desafios da modernidade, contra a corrupção. Por um pais orientado para o conhecimento e o futuro.
Numa palavra, por um novo Portugal, independente e orgulhoso de sua História, mais fraterno e solidário, reorganizado na Justiça, vocacionado para a responsabilidade, exigente na Educação, sem abusos bancários, nem de justiça fiscal; um país de paz e com gosto de viver.
Revejo-me num país sem tacanhez politica, com critérios claros e definidos das prioridades, com controlo orçamental das despesas públicas, sem luvas nas compras, sem redecoração sumptuosa de gabinetes e sobretudo com uma mentalidade de serviço nos titulares de cargos públicos. Sem reformas assombrosas, nem salários blindados; sem reconduções duvidosas, nem promoções por convites; sem nepotismos em circuito fechado, nem processos de averiguações sempre eternos e inconclusivos.
Revejo-me num outro orgulho português, que não aceita as receitas europeias de forma acéfala e as filtra pelo gosto e pela sensibilidade de uma lógica de um país com novecentos anos de viagens, valor e sobrevivência.
Revejo-me sem nacionalismos doentios, mas sem medo da palavra Pátria. E sem medo de consubstanciar a revolta surda que todos sentimos em acção cívica, aceitando discutir caminhos para a clarificação das águas, dentro dos parâmetros da democracia participada, mas com o direito à indignação. Com direito ao sentimento de cansaço e a fazer todas as perguntas que se impõem, perante tão fracos artistas que nos oferecem diariamente tão triste espectáculo de si mesmos.
Artistas da palavra vã, da promessa eterna, da circulação de cargos e da rotação de privilégios. Gentes que, de alternativa em alternativa, nos vão prometendo sempre diferença, mas que nada mudam, nada transformam e tudo empobrecem.
Convido, pois, todos os homens e mulheres de bem, crentes ou não numa filosofia politica, desde que se revejam neste cansaço e nesta fome de outro viver, para que dêem corpo a uma força cívica de grande expressão, independente e generosa, franca e aberta, abrangente mas unida, que nos devolva a dignidade e o gosto de viver em Portugal.
Vamos pensar Portugal. Este que temos apodreceu e parou.
Queremos outro. Gritemos.
Viver aqui tem que poder ser MUITO MAIS que isto que nos estão a dar.
É urgente reunir forças e fabricar uma nova esperança.
O GRITO é preciso.
Amigos,
A SENSAÇÃO de incomodidade, de insatisfação e descontentamento tomaram as rédeas do nosso quotidiano.
Pelas tertúlias, nos cafés, ao almoço, nos locais de trabalho, nos transportes públicos, nas redes sociais, em família, em todas as estradas e tribunas da vida registamos um acabrunhado sentir, uma tristeza e amargura, uma revolta interior, uma sede de mudança.
É um epifenómeno normal, decorrente duma castração progressiva de ideais, de um sentir fugir a felicidade, de um cinzentismo galopante, de uma profunda sensação de vergonha do passado, humilhação e insegurança no presente e de enorme descrença no futuro.
Verifico, com alguma surpresa, que, apesar das mais díspares consciências cívicas e formações pessoais; apesar de todos nós termos necessariamente opiniões politicas diversas, opções de intervenção variadas e argumentos nem sempre convergentes, cresceu e se regista, não obstante, neste momento uma sintonia na vontade de quebrar amarras.
E sente-se, afinal, uma abrangência enorme nas pessoas em relação a muitos pressupostos fundamentais - os da iniquidade que repudiam; da humilhação que não aceitam e da mudança que desejam. Todos começamos a sentir e ter consciência de que é urgente uma intervenção cívica de grande alcance expressão e dignidade.
Chegamos ao fim da linha da tolerância e da paz social, fundada no eterno discurso do “sacrifício” sempre para os mesmos. Sobretudo por não vermos exemplos que nos cheguem de cima, nem da gestão catastrófica do Estado.
A Europa, não menos tremida nos seus alicerces sócio-económicos, rege os destinos e desígnios do nosso país.
Podíamos estar a discutir hoje com entusiasmo a Educação, o Progresso, a Investigação, a Arte, a Cultura, a Ciência e o avanço tecnológico e social. Em contrapartida, descobrimos temas que, ontem ainda, pouco julgaríamos possíveis, como a incerteza da Segurança social, o agravamento das reformas, o descalabro do PIB, o problema do deficit, a dívida pública ou as classificações ditatoriais das agências de rating internacionais.
Todos sentimos no quadro relativo dos valores e pressupostos que nos oferecem no actual menu de oferta pública politica, o cansaço de um bafio ideológico, impregnado de velhos salitres, com protagonistas sempre repetidos, e sem vontade nem energia para mudar, autistas perante o sentir popular, acomodados em lugares bem pagos, circulando em redoma fechada, acumulando assessorias diversas e quantas vezes com sombras de corrupção e menos clareza no seu enriquecimento.
Raros surgimentos avulsos de algum inegável valor e grande generosidade, por falta de corpo, de organização e de sequência, logo são ultrapassados pelo regresso à nomenclatura sempre dos mesmos, ou dos alternadamente mesmos.
Apetece muitas vezes soprar um novo halo de energia e generosidade. Com causas colectivas muito simples - pelo mérito, pela Ecologia, pela competência, pela requalificação do Ensino, contra os salários faraónicos dos gestores nas empresas do Estado, pela probidade dos homens públicos, pela Cultura em todas as suas vertentes, pelos desafios da modernidade, contra a corrupção. Por um pais orientado para o conhecimento e o futuro.
Numa palavra, por um novo Portugal, independente e orgulhoso de sua História, mais fraterno e solidário, reorganizado na Justiça, vocacionado para a responsabilidade, exigente na Educação, sem abusos bancários, nem de justiça fiscal; um país de paz e com gosto de viver.
Revejo-me num país sem tacanhez politica, com critérios claros e definidos das prioridades, com controlo orçamental das despesas públicas, sem luvas nas compras, sem redecoração sumptuosa de gabinetes e sobretudo com uma mentalidade de serviço nos titulares de cargos públicos. Sem reformas assombrosas, nem salários blindados; sem reconduções duvidosas, nem promoções por convites; sem nepotismos em circuito fechado, nem processos de averiguações sempre eternos e inconclusivos.
Revejo-me num outro orgulho português, que não aceita as receitas europeias de forma acéfala e as filtra pelo gosto e pela sensibilidade de uma lógica de um país com novecentos anos de viagens, valor e sobrevivência.
Revejo-me sem nacionalismos doentios, mas sem medo da palavra Pátria. E sem medo de consubstanciar a revolta surda que todos sentimos em acção cívica, aceitando discutir caminhos para a clarificação das águas, dentro dos parâmetros da democracia participada, mas com o direito à indignação. Com direito ao sentimento de cansaço e a fazer todas as perguntas que se impõem, perante tão fracos artistas que nos oferecem diariamente tão triste espectáculo de si mesmos.
Artistas da palavra vã, da promessa eterna, da circulação de cargos e da rotação de privilégios. Gentes que, de alternativa em alternativa, nos vão prometendo sempre diferença, mas que nada mudam, nada transformam e tudo empobrecem.
Convido, pois, todos os homens e mulheres de bem, crentes ou não numa filosofia politica, desde que se revejam neste cansaço e nesta fome de outro viver, para que dêem corpo a uma força cívica de grande expressão, independente e generosa, franca e aberta, abrangente mas unida, que nos devolva a dignidade e o gosto de viver em Portugal.
Vamos pensar Portugal. Este que temos apodreceu e parou.
Queremos outro. Gritemos.
Viver aqui tem que poder ser MUITO MAIS que isto que nos estão a dar.
É urgente reunir forças e fabricar uma nova esperança.
O GRITO é preciso.
Etiquetas: PB
5 Comments:
Pois. Lá gritar a gente grita. Mas é mais para dentro ou com quem está ao lado.
Será que o evoluir da situação nos obrigará a gritar como os tunisinos e os egípcios?...
Também depois de ler obrigo-me a comentar. E a coincidir com o comentário anterior.
Lamentável,
que nas recentes eleições,
nenhum dos presumidos salvadores do regime
tivesse querido assustar os eleitores.
Com algumas verdades, mais ou menos inconvenientes:
O País, está falido;
O Regime, carece de substituição/constituição;
Os reformados em acumulação de funções, de ser varridos.
O que faltou a Nobre: discutir o regime, entrar na política.
Bm
exactamente foi a nobreza q faltou. chegamos ao ponto da desconstrução. eles nao querem admitir mas é fatal...
Gritemos, pois... mas quem nos ouvirá??? Essa incomodidade sobre a qual fala e que conheço também, aonde nos leva? Ao voto nas mesmas personagens sinistras, à mudança pelos mesmos, à insistência nos suspeitos do costume.
Gritemos, sim, mesmo que apenas nós nos escutemos.
(há muito que grito, mas qual Cassandra ninguém me escuta)
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