27.1.11

Fantasmas

Por João Paulo Guerra

SEMPRE QUE ESTÁ para haver uma eleição, os “responsáveis” garantem ao povo que os fantasmas foram definitivamente enterrados nos cadernos eleitorais. Mas também sempre, após a eleição, alguém descobre que os mesmos ou outros fantasmas continuam a povoar o recenseamento. E assim vai esta espécie de democracia em Portugal: sob o espectro dos fantasmas.

Escrevi sobre este mesmo assunto em Março de 2004: estavam recenseados 580 mil eleitores-fantasma. Insisti em Janeiro de 2006: havia 600 mil fantasmas. Retomei o assunto em Abril de 2007: haveria nos cadernos eleitorais cerca de 800 mil "eleitores-fantasma". Voltei a escrever em Setembro de 2009: os fantasmas andavam já perto de um milhão. Agora, segundo o Correio da Manhã, os fantasmas subiram para 1,25 milhões. A democracia portuguesa é assim o único universo em que os fantasmas crescem e se reproduzem.

Não há governo que não chame os caça-fantasmas para varrer os cadernos eleitorais. Mas eles voltam. Aqui é que se sentem bem, entre saudosos do meio século em que não houve eleições e mais de cinco milhões de abstencionistas.

Antes mesmo de promessas de novas e mais impiedosas limpezas dos cadernos eleitorais, os "responsáveis" comentaram para o povo que descontando os fantasmas a abstenção não é tão elevada como se diz por aí: 53,3 por cento. Mas quem é que lhes garante que os fantasmas se contam entre os abstencionistas? Ninguém, como diria o Romeiro apontando com o bordão para o retrato de D. João de Portugal.

Em eleição anterior, um eleitor confessou que votou em duas assembleias por conta do cartão de eleitor. Com a barafunda instalada domingo passado, quem pode garantir que alguns fantasmas não tenham exercido o direito de voto que a fantasmagórica democracia portuguesa lhes dá?
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«DE» de 27 Jan 11

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