28.1.11

Aliança velha

Por João Paulo Guerra

A POLÍTICA portuguesa, tão entrevada de criatividade, serve-se na modalidade de pescadinha de rabo na boca. Isto é: as mesmas ideias ou a falta delas, os mesmos projectos, o mesmo arsénico e as mesmas rendas velhas saem de cena por uma porta e entram por outra, numa marcação de récita amadora sem a mínima imaginação nem originalidade. Agora, a direita volta a querer uma nova Aliança Democrática, isto é, uma Aliança velha.

Passou há poucos dias a efeméride: 24 de Janeiro, ano de 1983, o Presidente da República dissolveu o Parlamento. A instabilidade na Aliança Democrática levou o general Ramalho Eanes a recorrer à bomba atómica. Projecto ligado à máquina há 28 anos, a AD tem sido objecto de várias tentativas de reanimação, todas elas goradas. Até já houve um projecto AD que morreu afogado num prato de sopa fria. Mas, volta e meia, lá volta.

Mais uma vez, a proposta parte do CDS-PP e visa a modalidade de coligação pré-eleitoral. O CDS sabe que futuras eleições, penalizando o PS, registarão concentração de voto útil no PSD. E lá se esvazia outra vez o balão, provavelmente volta à praça o partido do táxi, a que poderia com propriedade chamar-se CDS-Popó. Então, o melhor será que o CDS-PP entre directamente para o poder na "bolsa marsupial" do PSD, como dizia o outro, o que evitará uma desagradável surpresa na contagem de votos e uma posição demasiado subalterna na repartição das pastas. À boleia do PSD será mais fácil o PP voltar à pasta dos submarinos e blindados.

Mas o PSD, tal como o CDS aliás, também não é parvo nem nasceu ontem. De maneira que em relação à proposta do CDS-PP, para já "ninguém respondeu", como dizia o saudoso Raul Solnado, sempre tão actual e a propósito na comédia política portuguesa.
«DE» de 28 Jan 11

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