3.2.11

Comboios

Por João Paulo Guerra

A NOTÍCIA dos jornais de que Portugal perdeu 43 por cento dos passageiros de comboio em 20 anos, segue-se a duas outras notícias sobre o encerramento de mais dois troços de via-férrea. Foram as últimas viagens para os comboios de passageiros na Linha de Leixões, inaugurada há um ano e que não chegou a Leixões; e lotação esgotada para a derradeira viagem pelos 80 quilómetros de via-férrea entre Torre das Vargens e Beirã.

Acontece que este abandono do comboio como meio de transporte de passageiros, que se verifica em Portugal, contraria a tendência da maior parte dos países europeus. E é caso para perguntar o que é que acontece primeiro em Portugal: cessa a procura ou fecha a oferta do transporte ferroviário?

O que verdadeiramente acontece é que este país pelintra é um novo-rico endividado mas com a mania das grandezas. E a qualquer transporte colectivo, por mais moderno e cómodo que seja, prefere o transporte individual, de preferência com cilindrada e carroçaria capazes de deixarem os vizinhos a roerem-se de inveja. (Enveja: a última palavra do poema épico de Portugal e dos portugueses, Os Lusíadas: "...sem à dita de Aquiles ter enveja").

A este espavento parolo do novo-riquismo nacional responde o poder com uma rede de auto-estradas muitas das quais desertas. E é também o deserto que reina à sua volta, em povoações que definham porque ninguém lá passa e se detém. Muito ganha o sector do betão com as obras do poder e muito obra o poder em Portugal.

Depois, a sanha com que se fecham linhas férreas é apenas parte da sanha mais geral que exterminou os transportes marítimos e a frota de pesca, que praticamente extinguiu a produção agrícola e industrial. Portugal vive sem outra estratégia que não seja a dos interesses.
«DE» de 3 Fev 11

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2 Comments:

Blogger Unknown said...

Muito bom!

3 de fevereiro de 2011 às 17:33  
Blogger Bartolomeu said...

É verdade, mas... quando reflectimos sobre a questão dos transportes, sobretudo em Portugal e sobretudo fora das grandes urbes, contamos pelos dedos, aqueles que servem efectivamente os seus utilizadores.
É necessário tomar em consideração a geografia do país e dos meios habitacionais, relativamente aos locais de trabalho.
Depois, é como diz JPG, no caso dos transportes ferroviários, começam por reduzir o número de composições, em seguida o número de viágens, e por último, encerram-se as linhas. É obvio que na raiz do problema está o abandono do meio de transporte, inicialmente, por parte do utilizador, talvez em grande parte, devido ao aumento do número de desempregados.`
Alguns anos atrás, o transporte de mercadorias dentro do perritório, fazia-se quase na sua totalidade por via férrea, em vagons de mercadorias. Hoje, esse processo, face às necessidades de urgência, são impensáveis. O aumento do número de IC's e AE's, facilita que o transporte se faça com rapidez de porta-a-porta e, como muito bem sabemos... nos tempos actuais, cada vez mais, "tempo é dinheiro".
Um aspecto muito pretinente, focado neste post, é o do abandono e desmantelamento da indústria da pesca e ainda da agricultura, tudo devido aos milagrosos mas incoerentes subsídios da UE.
E ainda ninguem viu que esta situação só pode originar fome e dependência das importações.
A par de tudo isto, Portugal desperdiça a sua excelente localização geográfica e a sua costa marítima, que lhe permitem ser, na área dos serviços, uma porta larga para a europa e ainda, aquilo que já foi e tem todas as condições para voltar a ser; um estaleiro de reparação naval como poucos haverá no mundo.

3 de fevereiro de 2011 às 18:12  

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