2.2.11

Política

Por João Paulo Guerra

QUANDO toda a gente anda a falar sobre o eventual uso da bomba atómica por parte de Belém, eis que Mário Soares lançou uma bombinha de mau cheiro para o Congresso socialista de Abril. Falando com a autoridade de um pai que repreende um filho, Soares recomendou ao PS mais debate político e menos ‘marketing', mais culto pelos valores éticos e menos ‘boys'. Ora isto, é aconselhar o actual PS a ser outro, sem teleponto, como diz Manuel Maria Carrilho, e sem gente que só pensa em ganhar dinheiro e promover-se, como diz o próprio Mário Soares.

Aliás, o PS não tem parado de receber conselhos, desde que Cavaco Silva foi reeleito. Mas o PS assobia para o lado e atribui a derrota nas presidenciais a uma suposta "esquerda" do partido, constituída por uma dúzia de excêntricos mais umas centenas de silenciosos. Parece mesmo, aliás, que o tardio e vacilante "apoio" do PS à candidatura de Alegre visou matar dois coelhos de uma cajadada: assegurar a reeleição de Cavaco, com o qual o Governo se dá politicamente bem, para lá dos arrufos de campanha; e desinfestar o partido dessa coisa vaga mas incómoda a que se chama "esquerda". E uma vez que a derrota foi da "esquerda", quem aparece a personalizar a retoma do PS é a mais direitista falange do partido. Ora sendo absolutamente previsível que o actual secretário-geral ganhe o Congresso, rodeado da corte dos seus subalternos, é também de prever que os conselhos de Mário Soares vão parar ao armazém das "tralhas" socialistas caídas em desuso. Idealismo socialista, valores éticos? Pois, pois.

Isto é tanto uma crítica ao situacionismo interesseiro reinante no PS, como uma louvação a todos quantos, dentro e fora daquele e de outros partidos, lutam por valores, por causas, pela ética e a transparência na política.
«DE» de 2 Fev 11

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