13.4.11

Ao fundo

Por João Paulo Guerra

O FMI chegou a Portugal precedido de uma previsão, do próprio Fundo Monetário Internacional, de que vinha aí o inferno: crise, recessão, ainda mais desemprego e pobreza. A previsão de Portugal ao Fundo não foi lida na palma da mão, nem nas estrelas, menos ainda nos búzios ou em borras de café: não custa nada ao FMI prever o futuro, e acertar nos tons mais carregados da previsão, quando tem a paleta na mão e a tela do futuro lhe pertence. E desta vez o FMI não veio para fazer uns retoques na pintura, uns remendos nas canalizações, uns arranjos no tecto ou no soalho. Desta vez, o FMI veio mudar o edifício de alto a baixo, veio traçar o destino deste País - que já perdeu mais independência e já regrediu muitíssimo mais pela mão dos neoliberais e de outros fundamentalistas europeus do que em sessenta anos de ocupação castelhana no tempo dos Filipes.

E é assim que o próprio FMI prevê que Portugal - governado por um pretor dinamarquês - seja o único país europeu em crise e o único da zona euro em recessão em 2012. Aos burocratas de Bruxelas não interessou nunca saber se Portugal estava a integrar-se na União e a progredir para a coesão Europeia. O que lhes interessa é a contabilidade e as carteiras de títulos das clientelas. E onde sentem um poder fraco, dócil, disponível, pronto a vergar-se, pisam com toda a dureza.

É o caso de Portugal, que nunca ergue a voz na Europa a não ser para pedir mais uns milhões para cimento, com as respectivas comissões. Em matéria de cedências, está como esteve sempre aberto. Porque, bem vistas as coisas, a receita que o FMI traz não é substancialmente diferente da que os partidos do tripé do poder têm aplicado: sacrifícios, para glória das parcerias público-privadas e da delinquência financeira.
«DE» de 13 Abr 11

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1 Comments:

Blogger José Batista said...

É o país (eternamente pasto) dos vampiros.
Com grande complacência (colaboração?) dos indígenas, como gosta de nos chamar Vasco Pulido Valente.

13 de abril de 2011 às 11:06  

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