16.5.11

Desbocados

Por João Paulo Guerra

AVISO prévio: algumas palavras desta crónica poderão ferir susceptibilidades de leitores mais pudicos. Mas são apenas citações. A questão é que a campanha pré-eleitoral perdeu o tento na língua, reflectindo por um lado o imaginário e respectiva linguagem da rasteira classe política portuguesa, por outro a pudicícia excessiva de quem se escandaliza com o vernáculo da linguagem mas não com a política de exploração e pilhagem. Adiante.

O Dr. Catroga descobriu, horrorizado, um «pentelho» no debate político. Mentes mais recatadas escandalizaram-se pois que pensaram logo em pêlos púbicos, quando o termo pode significar coisa de pouca importância. Afinal tinham razão: Catroga reconheceu que se excedeu, reconhecendo assim em que sentido usava o termo. E terá sido em comentário ao desabafo do Dr. Catroga que o PS pediu um cessar-fogo na campanha em matéria de «brejeirices». Vendo bem, entende-se o raciocínio do PS: «pentelho» puxa «pentelho» não se sabe onde iria parar a campanha, pelo que será preferível cortar o mal pela raiz. Logo o líder do PSD veio em cooperação estratégica com o líder do PS considerar «pouco feliz» a imagem do «pentelho» do Dr. Catroga. E depois de José Lello ter apodado o chefe de Estado de «foleiro», nem se imaginam as consequências institucionais do descomedimento do discurso político.

A brejeirice vernácula aplicada à políticas tem o seu mito fundador no sempre saudoso almirante Pinheiro de Azevedo, acerca de cujo vocabulário a história só se recorda de uma expressão: «Bardamerda». Mas isso eram excessos do PREC. Em democracia, o deputado do PSD José Eduardo Martins já só mandou «pró c……» o deputado do PS Afonso Candal.

Há pois que evitar tais excessos e tornar o debate político mais manso. «Manso é a tua tia, pá», responderia o primeiro-ministro.
«DE» de 16 Mai 11

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