17.5.11

A Minha Mala e a Morte de Bin Laden

Por Maria Filomena Mónica

FAZ AGORA um mês que, acompanhada pelas minhas netas, estava em Nova Iorque a espreitar para dentro do Ground Zero. Através de uma rede de ferro, vimos o espaço onde estão a ser construídos os edifícios que substituirão os arranha-céus destruídos pelos terroristas comandados por Bin Laden. A nosso lado, betoneiras gigantes cruzavam-se com operários de colete verde alface. Junto a um baixo-relevo, «dedicado aos que morreram e àqueles que continuam a luta», podiam ver-se flores ainda frescas, e, adiante, num painel improvisado, as fotografias dos bombeiros que, numa tentativa de encontrar sobreviventes, haviam sucumbido após o ataque de 11 de Setembro de 2001.

Deambulámos, em seguida, pelo bairro. Olhámos, curiosas, o Federal Hall, onde G. Washington tomou posse como primeiro Presidente dos EUA e o New York County Supreme Court, contendo, no frontão, a sua frase: «A verdadeira administração da justiça é o pilar mais firme de um bom governo». Ao contrário de outras viagens que fiz àquele país, esta era de recreio. Destinava-se a cumprir a promessa, feita à Rita e à Joana, de que, se tivessem boas notas, as levaria até ao Empire State Building.

Uma semana é um período curto, mas dá para respirar o ar do tempo. Apesar do «Yes, We Can», as tensões raciais pareceram-me mais profundas e mais agressivos os debates políticos. Uma vez que não tinha força para o fazer, Obama não deveria ter prometido que, se fosse eleito, acabaria com Guantanamo. Depois de seis horas de espera pelo voo, cheguei a casa de mau humor. Pior fiquei, ao verificar que a fechadura da minha mala - a que vinha no porão da carga - havia sido forçada. Dentro, encontrei um impresso, da Transportation Security Administration, no qual se dizia ter ela sido escolhida ao acaso, acrescentando-se que, por se encontrar fechada à chave, fora necessário violá-la.

Pelos vistos, o governo dos EUA dotou-se de uma lei que, a coberto da segurança, lhe dá poder para arrombar bagagens. É verdade que o organismo dizia lamentar o sucedido, mas informava-me que, se algum item tivesse desaparecido, não se considerava responsável. Admitindo que o gesto serve o propósito da luta anti-terrorista, porque não fui prevenida? É verdade que, no balcão do check-in em Newark, não havia funcionários – estes foram substituídos por um computador – mas nada impedia que, através do equipamento sonoro, os passageiros tivessem sido alertados.

O episódio pode surgir como uma irrelevância, mas não o é: trata-se de um atentado às nossas liberdades. Se o Ocidente vai por este caminho, a violação da correspondência tornar-se-á, um dia, legal. Estava a meditar sobre o que me acontecera quando ouvi, na rádio, que Bin Laden fora assassinado. O primeiro sentimento, de regozijo, foi substituído pelo medo de que a descoberta do seu paradeiro se tivesse ficado a dever ao uso de tortura. Obama não pode esquivar-se a dizer-nos como esta morte ocorreu.
«Expresso» de 14 Mai 11

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3 Comments:

Blogger Plácido said...

Curioso este texto. Curioso como há pessoas que ainda não sabiam estas coisas.

Com o pretexto dos atentados terroristas, cuja história, muito mal contada, um dia se saberá, os Estados Unidos tornaram-se um pesadelo no que respeita à Liberdade.

Violam as bagagens, a correspondência, os domicílios, escutam os telefones e vigiam os e-mails. Prendem-se pessoas sem culpa formada, torturam-se para obter confissões de tudo e mais alguma coisa.

O chamado Patriot Act dá-lhes cobertura para fazerem seja o que for que lhes apetecer, bastando dizer que está em causa ameaça "terrorista".

Mas nós europeus, temos um remédio muito simples para evitar sofrer indignidades e correr riscos.

Façam como eu, ir aos EU nunca mais. Passo bem sem eles.

Quanto ao Bin Laden e respectiva defunção, aí está outra história mal contada. Um dia se entenderá em que termos o malandro do Bin Laden anda a fazer na política americana o papel catalisador que Satanás desempenha na Bíblia Sagrada.

17 de maio de 2011 às 13:07  
Blogger Matrioska said...

Há aqui uma imprecisão: 9-11 é Setembro, 11. Os ataques foram a 11 de Setembro e não a 9 de Setembro.

18 de maio de 2011 às 10:40  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Matrioska,

Tratar-se, decerto, de uma gralha, pelo que vou tomar a liberdade de a corrigir.

18 de maio de 2011 às 10:51  

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