Troika inscreveu-se em dois partidos
Por Antunes Ferreira
É SABIDO que a originalidade portuguesa é famosa por todo o Mundo e arredores. Na quarta-feira, tive a grata oportunidade de o comprovar. No meio de muitíssima gente especada perante os aparelhos de televisão, aguardando a declaração de José Sócrates sobre o acordo alcançado depois das conversações que vinham a decorrer com a troika constituída pelo FMI, UE e BCE.
Ao longo dos dias, e perante um muro de silêncio e segredo absolutos, os órgãos da Comunicação tinham-se dedicado à nobre tarefa – abro aqui uma parentética para informar que nobre, neste contexto, é um adjectivo qualificativo, portanto com caixa baixa, sem quais quer intenções mais rebuscadas, insidiosas ou torpes; fecho o parênteses – de atirar bolas de sabão para o ar. A pitonisa de Delfos não teria feito melhor, ainda que mais enxofrada e menos imaginativa.
Estive perante uma situação perfeitamente bicéfala. Não foi apenas o primeiro-ministro em exercício o orador da noite. Enquanto, em directo, a RTP, dava a declaração do ainda chefe do Governo, a SIC passava a declaração de Eduardo Catroga sobre o mesmo tema. Ainda tentei zipar, mas a disparidade dos discursos era tal que me levou a tentar a solução de emergência; nestas coisas a tecnologia continua a deslumbrar-me e mesmo a espantar-me. Sou, decididamente, um troglodita do Terciário inferior, confesso.
Assim, correndo o risco de matar à nascença a ideia que me assaltara, pedi à minha mulher que gravasse a intervenção do antigo ministro das Finanças e negociador autenticado do que quer que fosse com o Executivo demissionário e os três parceiros que tinham decidido ajudar (???) Portugal. O que realmente aconteceu e me permitiu a posteriori fazer a comparação entre os dois discursos.
E cheguei a uma modesta conclusão, quiçá empolada, para não dizer até errada: a troika decidira mandar a imparcialidade e a equidistância às urtigas. Explico o porquê desta constatação. De acordo com Sócrates que falava em S. Bento, a troika aceitara quase tudo o que o famoso, perdão, famigerado PEC4 apontava. Uma vitória para o Governo, portanto. Segundo Catroga que falava na Rua de S. Caetano, as objecções laranjas ao falhado Plano tinham sido quase todas aceites, pelo que a vitória fora inteirinha do PSD.
Se calhar, pensei (e ainda penso) os três membros da referida troika inscreveram-se no PS e no PSD ao mesmo tempo. Originalidade tsunâmica só possível em Portugal. Mais tarde, porém, a representação tripartida veio pôr uns quantos litros de água fria na fervura. Mas, não deixando de sublinhar que nos deixássemos de brincar às economias zarolhas e que, apesar de tudo, ela fora branda em comparação com o que dizia o Poder sobre o demónio que ela representaria quando por aqui viesse.
E deixava um lamiré: juizinho, meninas e meninos, que ela virá cá trimestralmente ver como nos comportamos. Não especificava se traria a palmatória; mas a hipótese da menina de cinco olhos ficou a pairar. Ou seja, voltámos ao tempo de sermos maus alunos, quiçá péssimos. Tónica que foi retomada pelo Presidente da República ontem à hora de jantar. O que Cavaco Silva afirmou traduzia no entender dele os desmandos dos cidadãos, das empresas e, principalmente do Estado que tinham conduzido a esta desgraça. Curiosamente, esqueceu-se de que fora também primeiro-ministro.
Até à hora em que escrevo estas linhas não houve qualquer comunicado do Largo do Rato ou da Rua de São Caetano sobre a alegada e hipotética filiação do trio humanitário a prazo e com juros. Tenho para mim, no entanto, que pelo menos temos de saber que, a ser assim, quem vai pagar as quotas. A troika não será por falta de fundos, pois os que tinha vêm inteirinhos para cá. Suspeito que seja o... Zé Povinho. Malandro do Bordallo...
É SABIDO que a originalidade portuguesa é famosa por todo o Mundo e arredores. Na quarta-feira, tive a grata oportunidade de o comprovar. No meio de muitíssima gente especada perante os aparelhos de televisão, aguardando a declaração de José Sócrates sobre o acordo alcançado depois das conversações que vinham a decorrer com a troika constituída pelo FMI, UE e BCE.
Ao longo dos dias, e perante um muro de silêncio e segredo absolutos, os órgãos da Comunicação tinham-se dedicado à nobre tarefa – abro aqui uma parentética para informar que nobre, neste contexto, é um adjectivo qualificativo, portanto com caixa baixa, sem quais quer intenções mais rebuscadas, insidiosas ou torpes; fecho o parênteses – de atirar bolas de sabão para o ar. A pitonisa de Delfos não teria feito melhor, ainda que mais enxofrada e menos imaginativa.
Estive perante uma situação perfeitamente bicéfala. Não foi apenas o primeiro-ministro em exercício o orador da noite. Enquanto, em directo, a RTP, dava a declaração do ainda chefe do Governo, a SIC passava a declaração de Eduardo Catroga sobre o mesmo tema. Ainda tentei zipar, mas a disparidade dos discursos era tal que me levou a tentar a solução de emergência; nestas coisas a tecnologia continua a deslumbrar-me e mesmo a espantar-me. Sou, decididamente, um troglodita do Terciário inferior, confesso.
Assim, correndo o risco de matar à nascença a ideia que me assaltara, pedi à minha mulher que gravasse a intervenção do antigo ministro das Finanças e negociador autenticado do que quer que fosse com o Executivo demissionário e os três parceiros que tinham decidido ajudar (???) Portugal. O que realmente aconteceu e me permitiu a posteriori fazer a comparação entre os dois discursos.
E cheguei a uma modesta conclusão, quiçá empolada, para não dizer até errada: a troika decidira mandar a imparcialidade e a equidistância às urtigas. Explico o porquê desta constatação. De acordo com Sócrates que falava em S. Bento, a troika aceitara quase tudo o que o famoso, perdão, famigerado PEC4 apontava. Uma vitória para o Governo, portanto. Segundo Catroga que falava na Rua de S. Caetano, as objecções laranjas ao falhado Plano tinham sido quase todas aceites, pelo que a vitória fora inteirinha do PSD.
Se calhar, pensei (e ainda penso) os três membros da referida troika inscreveram-se no PS e no PSD ao mesmo tempo. Originalidade tsunâmica só possível em Portugal. Mais tarde, porém, a representação tripartida veio pôr uns quantos litros de água fria na fervura. Mas, não deixando de sublinhar que nos deixássemos de brincar às economias zarolhas e que, apesar de tudo, ela fora branda em comparação com o que dizia o Poder sobre o demónio que ela representaria quando por aqui viesse.
E deixava um lamiré: juizinho, meninas e meninos, que ela virá cá trimestralmente ver como nos comportamos. Não especificava se traria a palmatória; mas a hipótese da menina de cinco olhos ficou a pairar. Ou seja, voltámos ao tempo de sermos maus alunos, quiçá péssimos. Tónica que foi retomada pelo Presidente da República ontem à hora de jantar. O que Cavaco Silva afirmou traduzia no entender dele os desmandos dos cidadãos, das empresas e, principalmente do Estado que tinham conduzido a esta desgraça. Curiosamente, esqueceu-se de que fora também primeiro-ministro.
Até à hora em que escrevo estas linhas não houve qualquer comunicado do Largo do Rato ou da Rua de São Caetano sobre a alegada e hipotética filiação do trio humanitário a prazo e com juros. Tenho para mim, no entanto, que pelo menos temos de saber que, a ser assim, quem vai pagar as quotas. A troika não será por falta de fundos, pois os que tinha vêm inteirinhos para cá. Suspeito que seja o... Zé Povinho. Malandro do Bordallo...
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1 Comments:
Primeiro - Venho da Travessa do Ferreira, onde o seu autor escreveu uma coisa linda, linda, linda sobre o lançamento do "Livro da Avó Alice" a que o Sorumbático se tinha referido. Vão até lá e comprem o livro.
Segundo - Este é mais um texto excelente do Henrique. Conjuga a graça com a realidade e ajuda a descarregar a nossa bílis. Muito bem.
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