13.7.11

Clientelas

Por João Paulo Guerra

UM DOS MALES do Portugal de hoje é que o País perdeu a memória de anteontem. Na edição de ontem, o Jornal de Notícias trazia novas da pesada herança dos estádios do Euro 2004. Há câmaras municipais estranguladas com gastos de 55 mil euros diários para sustentar os estádios do Euro 2004. São os casos dos municípios de Braga, Aveiro, Coimbra, Leiria. Faro e Loulé: nos anos que antecederam o Euro não havia município que não regateasse um estádio de raiz e um ou outro jogo do Europeu, nem que fosse um entusiasmante e mobilizador Letónia - Bulgária. Agora é que são elas.

Também não havia, nos anos que precederam o Euro 2004, clientela que não apoiasse as estapafúrdias reclamações autárquicas, como não deixava de haver quem ficasse de trombas por não merecer um estádio novinho em folha com 30 mil lugares e desatasse por isso a reclamar contrapartidas. Ao nível do poder central formavam-se lóbis para conceder um estadiozinho à clientela local e empresarial. E foi assim que Portugal, país de 89 mil quilómetros quadrados e 10 milhões de habitantes, ergueu arenas de 30 mil assentos em localidades tão improváveis como Faro-Loulé, Coimbra, Leiria, Aveiro e até mesmo em Braga. Para além de remodelar, os estádios de Guimarães e do Bessa, de forma a albergar 30 mil pagantes, coisa para acontecer, no futuro, uma ou duas vezes por ano.

Perguntar-se-á: mas os governantes, os autarcas, os dirigentes desportivos não fazem contas? Fazem contas, depois, e mandam as facturas para os contribuintes. Agora anda meio País sem saber o que fazer a cinco estádios de futebol. Mas aqui há poucos meses, andava o País doidinho por sem meter em mais uma competição, desta vez mundial. Como andava a traçar uma linha de TGV aos esses, de maneira a passar à porta de cada cliente.
«DE» de 12 Julho 11

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3 Comments:

Blogger José Batista said...

Se, ao menos, fosse possível dar os estádios aos credores do país, em pagamento das dívidas...

O estádio do Braga, um monstro cinzento cheio de arestas agressivas, acerca do qual é "perigoso" dizer-se que não se gosta, raramente consegue estar meio-cheio, ao que me dizem. Mesmo quando se oferecem bilhetes aos mais entusiastas. E na rua, o povoléu enche-se de orgulho e grita pela equipa de futebol, na convicção de que Braga entrou definitivamente no quadro de honra "futeboleiro".
Mas há uns quantos que já começam a referir os cinquenta e tantos euros que pagam, em média, de imposto municipal sobre imóveis, por terem uma modesta casita. É como se pagassem uma renda para poderem dizer que são donos de uma casa [estando ainda, nalguns casos, a pagá-la (também) ao banco...]. E é assim porque, em Braga, quem paga as despesas com o estádio não é a equipa de futebol e os (seus) sócios, é a Câmara Municipal!
Isto não configurará até concorrência desleal com outras equipas?
Dizem-me que não, que cada clube faz as batotas que pode, e que o de Braga é praticamente "santo", comparado com os outros.
Eu nada sei. Mas a "troica" bem podia dar uma vista de olhos no assunto, já que os de cá não conseguem esclarecer o assunto...

13 de julho de 2011 às 21:53  
Blogger José Batista said...

Esclarecimento: no comentário que fiz anteriormente, quando refiro cinquenta e tantos euros pagos em média, quero dizer que é em média por mês.

13 de julho de 2011 às 22:47  
Blogger Xico said...

E depois n queremos "ser considerados" lixo. Claro q n queremos.
Quando peço um empréstimo e estou desempregado claro q prefiro q alguém minta ao banco e diga q eu tenho toda a capacidade de pagar sem falta. Mas quem terá razão será o q diz ao banco a verdade da minha penúria.
Esta campanha anti título de lixo é mais areia para os nossos olhos.
Mas nós também somos aqueles q dizem q a tróica vem ajudar-nos e recebemos de braços abertos os nossos "carrascos".

Comecemos por ser realistas como o n foram os q nos ergueram os estádios e os q nos impingem o TGV.

13 de julho de 2011 às 23:37  

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