TENHO andado a reler «As Farpas», antes de dormir, num esforço para me abstrair dos problemas que nos afligem. No entanto, ontem, tive de pôr de lado o Volume 4 porque, apesar dos 130 anos que os textos já têm em cima do lombo, parecem feitos por medida para relatarem a nossa realidade actual:
O país que - sem pescas, nem indústria, nem agricultura - é incapaz de produzir aquilo de que precisa, os ministérios que gastam o que há e o que não há, a dívida sempre crescente, o défice incontrolável, os empréstimos contraídos junto do estrangeiro (quantas vezes só para pagar os juros de empréstimos anteriores!), os aumentos de impostos (sempre 'extraordinários' e 'inesperados'), os partidos que, chegados ao governo, fazem o que pouco antes criticavam aos outros…
Isso e muito mais. Página após página, está lá tudo - até o facto de a vida política estar entregue a três partidos compinchas que, alternado-se no poder, pensavam e faziam - no essencial, quando não também no acessório - exactamente o mesmo.
Isso e muito mais. Página após página, está lá tudo - até o facto de a vida política estar entregue a três partidos compinchas que, alternado-se no poder, pensavam e faziam - no essencial, quando não também no acessório - exactamente o mesmo.
5 Comments:
NOTA: Ainda pensei em digitalizar (e afixar aqui) essas partes.
Mas, além de poder estragar o livro (ao escarranchá-lo para o meter no 'scanner'), daria menos trabalho fazer o 'copy/paste' dos jornais actuais - de tal forma a realidade de hoje parece tirada a papel químico da que Ramalho descreve em 1881.
Caríssimo Carlos Medina Ribeiro,
Ramalho Ortigão é, de facto, um génio literário que nos descreve sabiamente a realidade portuguesa que passado um século não mudaram muito. Portugal sempre foi um país com pouco sentido de investimento e muito apostado em políticas de transporte como nos dizia no século XX Jaime Cortesão. Daí que o país tenha estado sempre ao longo da História aflito, porque só com a contenção orçamental ou com a sorte ultramarina a pátria conseguiu alguma folga no modo de vida. São estes Humanistas que nos retratam com clareza esta realidade diacrónica do país.
Saudações cordiais, Nuno Sotto Mayor Ferrão
www.cronicasdoprofessorferrao.blogs.sapo.pt
Caro Medina: Para não estragar o livro e a quem estiver interessado, é sempre possível ler, de forma gratuita e legal (creio eu), a referida obra literária através do Projecto Gutenberg, nomeadamente e para facilitar a procura, através dos seguintes links:
http://www.gutenberg.org/ebooks/13630
http://www.gutenberg.org/ebooks/14296
cumprimentos e espero que tenha apreciado a sugestão.
de forma mais expedita e para quem queira ler directamente no browser:
http://www.gutenberg.org/files/13630/13630-h/13630-h.htm
http://www.gutenberg.org/files/14296/14296-h/14296-h.htm
Muito obrigado!
Decerto já é legal, pois os direitos de autor (pelo menos em Portugal) caducam 70 anos depois da morte do autor.
Abraço
CMR
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