11.7.11

TENHO andado a reler «As Farpas», antes de dormir, num esforço para me abstrair dos problemas que nos afligem. No entanto, ontem, tive de pôr de lado o Volume 4 porque, apesar dos 130 anos que os textos já têm em cima do lombo, parecem feitos por medida para relatarem a nossa realidade actual:
O país que - sem pescas, nem indústria, nem agricultura - é incapaz de produzir aquilo de que precisa, os ministérios que gastam o que há e o que não há, a dívida sempre crescente, o défice incontrolável, os empréstimos contraídos junto do estrangeiro (quantas vezes só para pagar os juros de empréstimos anteriores!), os aumentos de impostos (sempre 'extraordinários' e 'inesperados'), os partidos que, chegados ao governo, fazem o que pouco antes criticavam aos outros…

Isso e muito mais. Página após página, está lá tudo - até o facto de a vida política estar entregue a três partidos compinchas que, alternado-se no poder, pensavam e faziam - no essencial, quando não também no acessório - exactamente o mesmo.

5 Comments:

Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

NOTA: Ainda pensei em digitalizar (e afixar aqui) essas partes.
Mas, além de poder estragar o livro (ao escarranchá-lo para o meter no 'scanner'), daria menos trabalho fazer o 'copy/paste' dos jornais actuais - de tal forma a realidade de hoje parece tirada a papel químico da que Ramalho descreve em 1881.

11 de julho de 2011 às 19:40  
Blogger Nuno Sotto Mayor Ferrao said...

Caríssimo Carlos Medina Ribeiro,

Ramalho Ortigão é, de facto, um génio literário que nos descreve sabiamente a realidade portuguesa que passado um século não mudaram muito. Portugal sempre foi um país com pouco sentido de investimento e muito apostado em políticas de transporte como nos dizia no século XX Jaime Cortesão. Daí que o país tenha estado sempre ao longo da História aflito, porque só com a contenção orçamental ou com a sorte ultramarina a pátria conseguiu alguma folga no modo de vida. São estes Humanistas que nos retratam com clareza esta realidade diacrónica do país.

Saudações cordiais, Nuno Sotto Mayor Ferrão
www.cronicasdoprofessorferrao.blogs.sapo.pt

12 de julho de 2011 às 00:02  
Blogger Pedro said...

Caro Medina: Para não estragar o livro e a quem estiver interessado, é sempre possível ler, de forma gratuita e legal (creio eu), a referida obra literária através do Projecto Gutenberg, nomeadamente e para facilitar a procura, através dos seguintes links:
http://www.gutenberg.org/ebooks/13630
http://www.gutenberg.org/ebooks/14296
cumprimentos e espero que tenha apreciado a sugestão.

12 de julho de 2011 às 14:33  
Blogger Pedro said...

de forma mais expedita e para quem queira ler directamente no browser:
http://www.gutenberg.org/files/13630/13630-h/13630-h.htm
http://www.gutenberg.org/files/14296/14296-h/14296-h.htm

12 de julho de 2011 às 14:35  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Muito obrigado!

Decerto já é legal, pois os direitos de autor (pelo menos em Portugal) caducam 70 anos depois da morte do autor.

Abraço

CMR

12 de julho de 2011 às 17:32  

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