9.7.11

O 'rating' e o rato

Por Antunes Ferreira

O QUE SÃO agências de notação financeira? Tanto se tem falado delas, tanto se tem discutido sobre as classificações que elas fazem, tantas têm sido as acusações que lhes são feitas, nomeadamente no que concerne à Moody’s que aparentemente se tem encarniçado contra Portugal, que é preciso saber realmente o que são. Os que conhecem destas coisas dirão, por certo, que se trata de um desconhecimento incrível. Seja. Mas, pecado confessado é, pelo menos, meio perdoado.
Porém, dando de barato que assim é, aqui se informa que são entidades que avaliam, atribuem notas e classificam países ou empresas, segundo uma nota de risco, a qual expressa o grau de risco de que essas empresas ou países não paguem suas dívidas no prazo fixado. A «santíssima trindade» (dentre elas) é constituída pela já referida Moody’s, pela Fitch Rating e pela Standard & Poor’s. Que são americanas.
Elas atribuem as notas de risco ou classificações (ratings) não apenas a países, mas também a municípios, empresas ou bancos. O objectivo da classificação é mostrar a capacidade de pagamento de dívidas (valor total e juros) no prazo prometido - ou seja, mostrar a capacidade de o emissor (issuer) cumprir o seu contrato no prazo prometido.
A baixa do rating de Portugal, de várias autarquias, bancos e outras empresas portuguesas, atirando-os para o lixo, tem motivado reacções diversas não apenas no País, mas também a nível da Europa. Muita gente se tem pronunciado para criticar a Moody’s, muita se tem afirmado que é absolutamente necessário criar uma agência de notação europeia. Muito se tem acusado os EUA de tentarem eliminar a UE. Ou seja, o dólar assassinar o euro.
O primeiro-ministro, logo após a divulgação dessa despromoção vergonhosa, afirmou que lhe haviam dado «um murro no estômago». Mas, tanto quanto se sabe, a nobre arte nada tem que ver com as classificações do rating. Entende-se, portanto, que se tratou de expressão popular para comentar a agressão feita aos endividados nacionais, a começar pelo Estado, suspeitos de mau pagamento. Haverá que ver até onde este enorme imbróglio chegará.

No entanto, neste povo que se habituou a viver em crise, em que o pessimismo cresce quotidianamente, nem tudo são desgraças. Os lusos, já por muitas vezes o escrevi, continuam a ser capazes de alcançar resultados óptimos face a objectivos os mais diversos. Não pagam as contas, mas isso são outros contos.
Acaba de ser obtido o primeiro rascunho da totalidade do genoma do rato-toupeira-pelado, um mamífero que, embora não se distinga pela sua beleza física, possui uma invulgar resistência às doenças da velhice. O trabalho envolveu as mais recentes tecnologias de sequenciação genética e uma colaboração entre a Universidade de Liverpool e o Centro de Análise do Genoma (TGAC) de Norwich (ambos no Reino Unido).
Até à data, explica um comunicado daquela universidade britânica, nunca foi detectado cancro nestes animais. E mais: resultados recentes sugerem que as suas células possuem capacidades anti-tumorais inexistentes noutros roedores ou nos seres humanos.
E o mais fascinante para nós é que quem lidera os trabalhos de investigação é um jovem cientista português João Pedro de Magalhães. Na Grã-Bretanha. Enfim, há casos em que Deus dá as nozes a quem tem dentes, ou seja, as notas a quem tem unhas para tocar guitarra. No caso, portuguesa.

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1 Comments:

Blogger Antenor Muralha Filho said...

Gostei. Esse Senhor é duplo: divertido no blog dele e sério de mais aqui.

10 de julho de 2011 às 01:04  

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