8.7.11

Notícias do mundo cão

Por Ferreira Fernandes

O JORNAL inglês News of the World é velhinho como os esgotos a céu aberto. Tem 168 putrefactas primaveras. Não terá 169. Ontem, o seu patrão Rupert Murdoch decidiu fechá-lo já no próximo domingo. Nem a desculpa costumeira, falta de vendas, pôde ser invocada: mais 2,6 milhões de exemplares faziam-no o semanário mais lido do Reino Unido.
Não foi o insucesso que levou ao fecho, foi o aprimoramento de um estilo. Ainda no séc. XIX, em selecto clube londrino, Lorde Riddel encontrou um amigo a quem disse que era dono de um jornal, News of the World. O cavalheiro não conhecia, mas deu-lhe a opinião, dias depois: "Passei os olhos pelo jornal, deitei-o para o caixote de lixo. Mas, depois, receei que outros o lessem e queimei-o."
Assim era e assim tem sido o jornal, esmerando-se à volta do seu lema: "Tudo que é da vida humana está aqui." Da vida humana, entenda-se, que mata, que rapta, que viola, que assalta.
News of the World não olhava a meios, justificados pelo fim de denunciar as misérias. E com século e meio de convivência, tudo se confundiu, meios e fins. Fez escutas ao telefone de uma criança raptada e não se importou de baralhar pistas à polícia para ser o primeiro a "informar". Suspeita-se que tenha posto sob escuta famílias de soldados mortos no Afeganistão, para manchetes de emoção...
Murdoch não quis alimentar um escândalo (coisa rara), e teve de acabar com ele. Já tem outro título para o substituir.
«DN» de 8 Jul 11

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