13.10.11

Indignação

Por João Paulo Guerra

A IDEIA da indignação contra a subversão da democracia e o desprezo pelos direitos da pessoa humana reúne muitíssimo mais gente que os acampados de Madrid - ou os pobres acampados do Rossio varridos pela Polícia - ou que os ocupantes de Wall Street.

Não cabe em nenhuma praça ou avenida. E é assim que a indignação e o protesto estão a globalizar-se, como globalizada é a ganância que está na origem dos males do mundo e do sofrimento sem esperança das pessoas. No próximo fim-de-semana, indignados de pelo menos 67 países manifestam-se pacificamente em pelo menos 630 cidades de todos os continentes. Reclamam o direito de decidir o seu futuro, numa democracia que não esteja à venda, e representam-se apenas a si próprios. As siglas que aparecem associadas às concentrações são apenas postos de correio que distribuem os mapas e horários para as concentrações. Ninguém é dono de ninguém e menos ainda da democracia.

Esta movimentação verdadeiramente original e espontânea é precisamente a resposta encontrada por pessoas simples à apropriação e manipulação da democracia. E é assim um movimento muito mais profundo que qualquer reclamação social, sindical ou corporativa. A democracia criada e alimentada pelos homens está a esvair-se pelo esgoto da ganância, da exploração e da acumulação. O mundo vive já uma época pós-democrática, na qual a democracia formal se transformou num instrumento dos interesses das oligarquias. Não há alternativa, nem saída: o partido-cara é igual ao partido-coroa e ambos servem os mesmos senhores.

As concentrações de indignados são apenas um sinal dos tempos. Não é por ali que o mundo vai mudar, retomando os valores da liberdade e justiça. Mas pode ser por ali que alguma coisa nova comece.

«DE» de 13 Out 11

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