Leite e mel
Por Antunes Ferreira
DESENGANE-SE quem contava que o discurso do nosso primeiro na quinta-feira fosse mau; foi pior, na realidade, foi péssimo. Foi o discurso da desgraça, foi o discurso do aumento das cargas (fiscais e outras) sobre os Portugueses, foi o discurso da ameaça, foi o discurso da retaliação. Contra (quase) todos os Executivos que antecederam o actual. Sem os nomear – e assim os de Cavaco escaparam.
No entanto, Pedro Passos Coelho, PPC, sempre foi dando uma pequeníssima alegria progressiva ao povo: em 2012 será o tsunami, em 2013 será a emersão, e finalmente, em 2014 será o país do leite e do mel. Há quem duvide? Eu, não. Acredito habitualmente, sem rebuço, em quem nos governa, nas suas rectas intenções, nos seus bons propósitos e, sobretudo no que se propõem fazer. Ingénuo? Crente. Porém, cuidado, fui católico, mas curei-me.
Diz quem sabe dessas coisas que há que sofrer na terra para se ganhar o Céu e, especificamente, a felicidade eterna. Cada vez mais me espanta a asserção, pois todos ambicionamos ser o mais felizes possível nesta vida que, aliás, para mim é a única que temos. A esmagadora maioria dos homens almeja a felicidade no quotidiano. Esperar por um lugar numa qualquer nuvem com direito a harpa individual é despicando.
Alcançar a terra do leite e do mel é aspiração que já vem do Antigo Testamento. Umas quantas lendas judaicas igualmente a isso se referem. Um exemplo, apenas. «Um sábio, de su nome Rami ben Yechezkel certa vez visitou Bnei Brak. Quando andava num campo, perto da cidade, encontrou três figueiras repletas de frutos doces e maduros. Muitos já estavam caídos no solo e o seu mel fluía deles. Naquele mesmo, algumas cabras, que pastavam por perto, vieram a correr, e comeram os figos que estavam no chão. Os úberes das cabras ficaram tão cheios que o leite gotejou na terra, precisamente em cima do mel dos figos. Rami ben Yechezkel ficou emocionado. "Vejam", bradou, - "isto é exactamente o que Hashem nos prometeu - uma terra com abundância de leite e mel!"». Si non è vero, è bene trovato.
Pois foi o muito pouco que eu pude deduzir dos quase vinte minutos de palavreado com que o primeiro-ministro nos mimoseou. O que, não sendo animador, bem pelo contrário, foi esclarecedor. Isto está num buraco tal que tem de haver quem pague para que o tapem. Ao buraco colossal, entenda-se. Não haja dúvidas: serão os mesmos, ou seja, os funcionários e os pensionistas. Remédio santo e fácil.
Espantou-me um tanto que Coelho não tenha também incluído nesta gentalha, os jornalistas. Mas, hony soit… Mas enfatizou uma ajuda para a posteridade e para a produtividade. Os molengas dos trabalhadores da privada, para que não se fiquem a rir, vão trabalhar mais meia hora por dia. Os patrões queriam mais, mas foi o que se pôde arranjar.
Descuidado ou desatento não ouvi nada sobre a nossa economia. O nosso chefe deve ter enunciado os caminhos para o crescimento e, já agora, para o desenvolvimento, mas não dei por isso. Da consolidação orçamental e da correcção das contas públicas, disso, dei conta. E vejam que não desliguei o aparelho auditivo, muito simplesmente porque (ainda) não o uso.
Porém, o desejado aumento da famosa produtividade não resultará desse bendito, ainda que escasso, acrescento laboral de trinta minutos diários. Vai-se aos feriados – e pimba, juntam-se aos fins-de-semana e outros mesmo deverão ser executados, precisando, abatidos, eliminados. A Igreja que nestes transes não é de modas, já admitiu que nem os feriados católicos escapem. Eu pergunto-me: os Santos Populares, vá que não vá. O António, então, é só balões, sardinha assada com pimentos, marchas e vinhaça. Mas, e o 24/25 de Dezembro?
DESENGANE-SE quem contava que o discurso do nosso primeiro na quinta-feira fosse mau; foi pior, na realidade, foi péssimo. Foi o discurso da desgraça, foi o discurso do aumento das cargas (fiscais e outras) sobre os Portugueses, foi o discurso da ameaça, foi o discurso da retaliação. Contra (quase) todos os Executivos que antecederam o actual. Sem os nomear – e assim os de Cavaco escaparam.
No entanto, Pedro Passos Coelho, PPC, sempre foi dando uma pequeníssima alegria progressiva ao povo: em 2012 será o tsunami, em 2013 será a emersão, e finalmente, em 2014 será o país do leite e do mel. Há quem duvide? Eu, não. Acredito habitualmente, sem rebuço, em quem nos governa, nas suas rectas intenções, nos seus bons propósitos e, sobretudo no que se propõem fazer. Ingénuo? Crente. Porém, cuidado, fui católico, mas curei-me.
Diz quem sabe dessas coisas que há que sofrer na terra para se ganhar o Céu e, especificamente, a felicidade eterna. Cada vez mais me espanta a asserção, pois todos ambicionamos ser o mais felizes possível nesta vida que, aliás, para mim é a única que temos. A esmagadora maioria dos homens almeja a felicidade no quotidiano. Esperar por um lugar numa qualquer nuvem com direito a harpa individual é despicando.
Alcançar a terra do leite e do mel é aspiração que já vem do Antigo Testamento. Umas quantas lendas judaicas igualmente a isso se referem. Um exemplo, apenas. «Um sábio, de su nome Rami ben Yechezkel certa vez visitou Bnei Brak. Quando andava num campo, perto da cidade, encontrou três figueiras repletas de frutos doces e maduros. Muitos já estavam caídos no solo e o seu mel fluía deles. Naquele mesmo, algumas cabras, que pastavam por perto, vieram a correr, e comeram os figos que estavam no chão. Os úberes das cabras ficaram tão cheios que o leite gotejou na terra, precisamente em cima do mel dos figos. Rami ben Yechezkel ficou emocionado. "Vejam", bradou, - "isto é exactamente o que Hashem nos prometeu - uma terra com abundância de leite e mel!"». Si non è vero, è bene trovato.
Pois foi o muito pouco que eu pude deduzir dos quase vinte minutos de palavreado com que o primeiro-ministro nos mimoseou. O que, não sendo animador, bem pelo contrário, foi esclarecedor. Isto está num buraco tal que tem de haver quem pague para que o tapem. Ao buraco colossal, entenda-se. Não haja dúvidas: serão os mesmos, ou seja, os funcionários e os pensionistas. Remédio santo e fácil.
Espantou-me um tanto que Coelho não tenha também incluído nesta gentalha, os jornalistas. Mas, hony soit… Mas enfatizou uma ajuda para a posteridade e para a produtividade. Os molengas dos trabalhadores da privada, para que não se fiquem a rir, vão trabalhar mais meia hora por dia. Os patrões queriam mais, mas foi o que se pôde arranjar.
Descuidado ou desatento não ouvi nada sobre a nossa economia. O nosso chefe deve ter enunciado os caminhos para o crescimento e, já agora, para o desenvolvimento, mas não dei por isso. Da consolidação orçamental e da correcção das contas públicas, disso, dei conta. E vejam que não desliguei o aparelho auditivo, muito simplesmente porque (ainda) não o uso.
Porém, o desejado aumento da famosa produtividade não resultará desse bendito, ainda que escasso, acrescento laboral de trinta minutos diários. Vai-se aos feriados – e pimba, juntam-se aos fins-de-semana e outros mesmo deverão ser executados, precisando, abatidos, eliminados. A Igreja que nestes transes não é de modas, já admitiu que nem os feriados católicos escapem. Eu pergunto-me: os Santos Populares, vá que não vá. O António, então, é só balões, sardinha assada com pimentos, marchas e vinhaça. Mas, e o 24/25 de Dezembro?
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1 Comments:
Espero que já ninguém se iluda de que as “medidas temporárias” serão definitivas. O orçamento de 2013, será o de 2012, agravado, e o seguinte ainda mais agravado etc. etc. Serão retirados os 13º e 14º meses a quem ainda os mantém, e isso será feito em nome da justiça social, não é justo uns terem e outros não. Se as pessoas fizerem as contas verão que o 12º mês também já se foi. Mas outros se seguirão.
Não é possível pagar dívidas de 40 anos nas empresas públicas (antes de as privatizar), em dois anos, e muito menos é possível pagar os serviços da dívida, para o que a Europa bondosamente emprestou os tais 78 mil milhões, ou seja, mais dívida. Por mim, a única solução é declaração de insolvência e vender o país aos talhões. Os países não têm que existir para sempre. Conheço mais ou menos a História de Portugal e não consigo encontrar nenhum facto, deveras importante, que justifique a sua existência como país. Quando me vêm com a treta dos descobrimentos, tenho que lhes lembrar que uma das consequências dos descobrimentos, - se calhar a única, não é bem a única por que se fizeram alguns palácios e muitas igrejas -, foram as misericórdias, ou seja, casas para ajudar os pobres.
Os portugueses terem-se metido nas caravelas, ou ficado em casa a ver os jogos dos três grandes, era mesma coisa, a Humanidade ficava na mesma. Os donos dos mares eram os ingleses, e os que beneficiaram e desenvolveram o conhecimento científico resultante desses novos mundos foram os holandeses.
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