13.10.11

A transparência das nossas secretas

Por Ferreira Fernandes

ADORO notícias sobre as secretas portuguesas porque não só são secretas, ninguém fica a perceber nada, como são também portuguesas, isto é, nebulosas: além de não se perceber sobre os factos somos mandados para pistas manhosas.
Então, vamos lá às últimas sobre o caso do SIED, o das "escutas" (que não são escutas, mas listas de telefonemas) a jornalista, caso cujo escândalo maior se deve à luta, e isso sem ser confessado, entre dois grupos jornalísticos, a Ongoing, de Nuno Vasconcellos, e a Impresa, de Balsemão.
Ontem, o relatório do inquérito chegou à Assembleia da República, casa de paredes e telhados de vidro como poucas. Mas como o vidro é fosco e as notícias sobre as secretas portuguesas são o que acima se descreve, os noticiários anunciaram que o relatório "admite" investigação de fontes e caça às fontes. Ora, como as fontes são internas (isto é, pertencem às próprias secretas, dando informações de dentro para fora), surpreendo-me: o relatório "admite"?!!! Como quem confessa, é? Pois eu julgava que era próprio e legítimo que os serviços secretos caçassem funcionários seus que fossem fontes para fora. Ou, expulso o nome "secreta" dos SIS e SIED, trocando-o por "informações", agora expulsa-se também o secreta da função, para torná-los casas de vidro?
Com tanta transparência, só falta mesmo divulgar os nomes dos espiões. Ou, se calhar, como escrevo esta crónica cedo de mais, nem isso falta.

«DN» de 13 Out 11

Etiquetas: ,