28.11.11

Além

Por João Paulo Guerra

NO MESMO dia em que, contas feitas, se apurou que Portugal iria pagar 34.400 milhões de euros de juros pelos 78 mil milhões de créditos pelo resgate financeiro, os juros dispararam porque a agência Fitch atirou o ‘rating’ de Portugal para o patamar do lixo.

E assim, os portugueses que já sabiam que iam ter que empobrecer para pagar a incompetência de uns, a ganância de outros, a delinquência de terceiros e a agiotagem de quartos, afinal vão ver as suas vidas atiradas para o lixo. Com a Fitch a fazer disparar os encargos, os agiotas preparam-se neste momento para se aboletarem com mais de metade do bolo só em juros da dívida.

Indiferentes às denúncias e queixas quanto à falta de credibilidade, de representatividade e mesmo de seriedade, as agências de ‘rating' continuam a fazer das suas. Escrevo este texto a olhar para o contador da dívida corrente global, patente na edição online do The Economist, um implacável taxímetro que não se detém nem para respirar: a dívida norte-americana escreve-se com 13 algarismos e representa um quinto da dívida global; a dívida do Canadá representa mais de 61% do PIB: a da França mais de 82% e a da Alemanha 75,4%. No Japão, a dívida pública anda perto dos 200% do respectivo Produto Interno Bruto.

E perante esta situação planetária, há um pequeno conjunto de países do sul da zona euro, e respectivas populações, em vias de asfixia por medidas já aplicadas ou em vias de aplicação, ditadas não se sabe bem por quais interesses, intermediadas e sucessivamente agravadas pelas notações das agências de ‘rating'.

Um dia destes escrevia José Vítor Malheiros no Público que "ninguém elegeu as agências de ‘rating', os mercados, a ‘troika'". Pois não. Mas o que está a acontecer situa-se para além da democracia.
«DE» de 28 Nov 11

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2 Comments:

Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Quando se fala de dívidas dos países, pode ser importante separar a dívida pública (organismos do Estado) da dívida privada (empresas + particulares).

Pode, também, ser necessário distinguir entre dívida externa e interna.
No caso do Japão, p. ex., boa parte do espantoso valor atingido é dívida interna (poupanças que os cidadãos japoneses emprestam ao Estado - do género "Obrigações do Tesouro" ou "Certificados de Aforro"). Em temos de consequências políticas internacionais isso pode fazer toda a diferença.

28 de novembro de 2011 às 13:23  
Blogger Nuno Trato said...

Caro Medina Ribeiro
Mais um excelente esclarecimento, a que já nos habituou.
Tudo que não fale de calçadas é bem-vindo.
Já agora, um pequeno contributo sobre as esferas armilares:

http://www.turismoyarte.com/naturaleza/universo/universo69.htm

Permitir-lhe-à, também, ir ao encontro da sugestão de um seu amigo desconhecido, de "alargar" as vistas...

28 de novembro de 2011 às 13:42  

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