As expectativas nacionais
Por Antunes Ferreira
HÁ QUEM diga que nunca uma noite e a madrugada subsequente foram tão importantes para Portugal. É consabidamente um exagero; mas, será? Muito se fala do 25 de Abril e com inteira justiça, muito se falou no primeiro de Dezembro e com razão (ou sem ela). Ambas as datas marcaram a História do nosso País, como símbolos da reconquista da liberdade e da independência. Porém, neste momento, as atenções da lusa gente estão viradas para outros lados.
Com certeza que se trata da penosa notícia dada pelo Governo durante a discussão do famigerado OE 2012: o montante dos juros que todos temos de pagar para saldar as contas do generoso empréstimo de 78 mil milhões de Euros, concedido por uma trindade benfeitora, a troika. Uns 34,4 milhões, mais coisa, menos coisa. Ninguém empresta de borla a quem quer que seja. Mas, aqui, não há expectativa. Já se sabe.
Outra hipótese relaciona-se com o ex-deputado do PSD Duarte Lima e/ou com o presidente camarário ex-PSD Isaltino Morais: um já preso, o outro à espera de o ser, estrebuchando muito como é natural. Bom, neste particular as coisas melhoram no que respeita à expectativa. No que respeita ao ainda autarca, porque quanto ao outro político a haver alguma é apenas saber-se se continuará sozinho atrás das grades ou se se lhe juntarão o filho e o sócio. E não se fala do caso Rosalina; trata-se de outro, ainda que os dois envolvam dinheiro – e muito.
Então qual é o tema que exige tanto de atenção a tantos cidadãos? Que, afinal, são dois. Logo à noite, termos o derby. No estádio da Luz, com jaula para os leões, o Sport Lisboa e Benfica e o Sporting Clube de Portugal defrontam-se para a Liga principal, patrocinada pela cerveja e pelas telecomunicações. Não se mencionam as empresas, pois o Sorumbático não publica publicidade. Elementar, meu caro leitor.
Todos os jogos entre estes dois «grandes» (se ainda é possível usar tal terminologia) fazem acorrer aos locais em que se defrontam verdadeiros mares de gente – e de há muitos anos a esta parte. Ainda o futebol se jogava em campos pelados e já isso acontecia. Os rivais querem-se quanto mais próximos melhor; Lisboa é o local mais indicado, ainda que o Porto reivindique a parte que diz que lhe toca. Ver-se-á o que vai acontecer.
E, logo de seguida, vem a votação em Bali dos delegados da UNESCO sobre as 49 candidaturas a Património Imaterial da Humanidade. Sobe a temperatura; não só porque a Indonésia é um País quente, mas também porque o Fado é um dos candidatos e alimenta fundadas razões para conseguir o galardão. No entanto, prognósticos… só no fim do jogo, frase que imortalizou o futebolista João Pinto, o do Futebol Clube do Porto.
Duas belíssimas e justificadíssimas razões para que nós estejamos mais do que atentos, atentíssimos. Em casos como estes, o que é que tem que as agências de notação varram os ratings deste triste País ou dos seus bancos para o caixote do lixo? Nada, que se lixe. Muito menos importa que o ainda bi-inquilino de Belém tenha ou não tenha promulgado uns quantos diplomas? Nada, que se trame. E quanto à Greve Geral e respectivos números e percentagens? Nada, já acabou ela. Mande-se às urtigas.
Sigamos todos, isso sim, com cuidados e desvelos q.b. o desenrolar destes capítulos de novelas da vida real, ainda que pela televisão. E que são reais determinantes da vida nacional. Para virtuais já temos que sobre. A crise, essa, como se dizia nos primórdios da velhinha RTP, segue dentro de momentos.
HÁ QUEM diga que nunca uma noite e a madrugada subsequente foram tão importantes para Portugal. É consabidamente um exagero; mas, será? Muito se fala do 25 de Abril e com inteira justiça, muito se falou no primeiro de Dezembro e com razão (ou sem ela). Ambas as datas marcaram a História do nosso País, como símbolos da reconquista da liberdade e da independência. Porém, neste momento, as atenções da lusa gente estão viradas para outros lados.
Com certeza que se trata da penosa notícia dada pelo Governo durante a discussão do famigerado OE 2012: o montante dos juros que todos temos de pagar para saldar as contas do generoso empréstimo de 78 mil milhões de Euros, concedido por uma trindade benfeitora, a troika. Uns 34,4 milhões, mais coisa, menos coisa. Ninguém empresta de borla a quem quer que seja. Mas, aqui, não há expectativa. Já se sabe.
Outra hipótese relaciona-se com o ex-deputado do PSD Duarte Lima e/ou com o presidente camarário ex-PSD Isaltino Morais: um já preso, o outro à espera de o ser, estrebuchando muito como é natural. Bom, neste particular as coisas melhoram no que respeita à expectativa. No que respeita ao ainda autarca, porque quanto ao outro político a haver alguma é apenas saber-se se continuará sozinho atrás das grades ou se se lhe juntarão o filho e o sócio. E não se fala do caso Rosalina; trata-se de outro, ainda que os dois envolvam dinheiro – e muito.
Então qual é o tema que exige tanto de atenção a tantos cidadãos? Que, afinal, são dois. Logo à noite, termos o derby. No estádio da Luz, com jaula para os leões, o Sport Lisboa e Benfica e o Sporting Clube de Portugal defrontam-se para a Liga principal, patrocinada pela cerveja e pelas telecomunicações. Não se mencionam as empresas, pois o Sorumbático não publica publicidade. Elementar, meu caro leitor.
Todos os jogos entre estes dois «grandes» (se ainda é possível usar tal terminologia) fazem acorrer aos locais em que se defrontam verdadeiros mares de gente – e de há muitos anos a esta parte. Ainda o futebol se jogava em campos pelados e já isso acontecia. Os rivais querem-se quanto mais próximos melhor; Lisboa é o local mais indicado, ainda que o Porto reivindique a parte que diz que lhe toca. Ver-se-á o que vai acontecer.
E, logo de seguida, vem a votação em Bali dos delegados da UNESCO sobre as 49 candidaturas a Património Imaterial da Humanidade. Sobe a temperatura; não só porque a Indonésia é um País quente, mas também porque o Fado é um dos candidatos e alimenta fundadas razões para conseguir o galardão. No entanto, prognósticos… só no fim do jogo, frase que imortalizou o futebolista João Pinto, o do Futebol Clube do Porto.
Duas belíssimas e justificadíssimas razões para que nós estejamos mais do que atentos, atentíssimos. Em casos como estes, o que é que tem que as agências de notação varram os ratings deste triste País ou dos seus bancos para o caixote do lixo? Nada, que se lixe. Muito menos importa que o ainda bi-inquilino de Belém tenha ou não tenha promulgado uns quantos diplomas? Nada, que se trame. E quanto à Greve Geral e respectivos números e percentagens? Nada, já acabou ela. Mande-se às urtigas.
Sigamos todos, isso sim, com cuidados e desvelos q.b. o desenrolar destes capítulos de novelas da vida real, ainda que pela televisão. E que são reais determinantes da vida nacional. Para virtuais já temos que sobre. A crise, essa, como se dizia nos primórdios da velhinha RTP, segue dentro de momentos.
Etiquetas: AF
10 Comments:
É demasiada matéria, toda ela de primeira linha, para um único post. Os eventuais comentários ficavam mais extensos que o artigo. Agora, estou a equipar-me de cachecol e boné para me refastelar a ver o dérbi. Mas não no galinheiro...
Como sempre venho aplaudir-te a escrita Amigo Henrique. Situação política delicada merecedora de toda atenção e cuidados. Afinal a vida longe da liberdade de expressão e da democracia não teria sentido.
Um grande bj no teu coração.
Caríssimo Antunes Ferreira,
Nos tempos da Globalização e da uniformização de padrões culturais nada mais importante a este nível do que a protecção da diversidade cultural a que a Unesco se tem dedicado com estas prestigiantes Classificações, a que devemos como nos diz estar atentos. Esta candidatura do fado a Património Imaterial da Humanidade tem sido bem fundamentada e tem unido os portugueses num sentimento salutar de pertença a uma identidade cultural comum.
Saudações cordiais, Nuno Sotto Mayor Ferrão
www.cronicasdoprofessorferrao.blogs.sapo.pt
Amigo Antunes Ferreira (espero que não leve a mal que o trate assim):
Em tempos tive lá por Coimbra um professor que dizia que milhões, milhares de milhões, biliões, etc, eram "camionetas de zeros", de que não tínhamos, muitas vezes, a noção clara. Ele era geólogo. Pondo de lado as notações científicas, eu achava que (ele) tinha razão. Ainda acho.
Mas parece-me que o juro do empréstimo com que "os troicos" nos "ajudam" totaliza não 34,4 milhões, mas sim 34,4 mil milhões de euros! Quer dizer, mais de 44% do capital emprestado!
Com uma tal "ajuda", penso eu que, a não ser que encontrássemos, cá no retângulo, poços de petróleo (já feitos) e minas de ouro e de diamante, de proporções inauditas, nunca conseguiremos pagar a monstruosa dívida que já tínhamos, os 78 mil milhões que agora gastamos mais os 34 mil milhões de juros com que nos comprometemos.
São as minhas contas, enfim... Se houver quem, com veracidade, as conteste, desde já agradeço.
Sugiro por isso aos políticos que se relacionem o mais e melhor possível com os agentes da "futebolidade", mais as tv(s) produtoras de escândalos e algazarras, e tudo o que puder arranjar-se para que a populaça tenha com que se esgatanhar daqui por mais uns tempitos.
A não ser que a miséria e o sofrimento sejam tais que...
Cala-te boca!
Caro Amigo José Batista
Tem carradas de razão. Eu tinha enviado ao Carlos o meu texto onde escrevera «34,4 mil milhões de euros» ou coisa que o valha.
Depois... bom, depois, comecei a pensar (e lá diz o ditado que quem casa não pensa e quem pensa não casa...) e disse para comigo que era impossível, que era um número verdadeiramente tsunâmico e rebéu, béu, pirolito.
Por isso, enviei ao supracitado Carlos Medina Ribeiro, uma nova mensagem, pedindo-lhe, naturalmente, desculpa do lapso e anexando a versão que entendia correcta: 34,4 milhões de euros.
Pior a amêndoa do que o cimento. Não devia ter pensado coisíssima nenhuma, um homem é, porém, um animal que não gosta de errar; mal pensava - que raio de repetição do verbo - eu que estava a emendar o correcto... pelo incorrecto.
O que devia ter feito, isso sim, perante a dúvida que me assaltara, era ter ido verificar o tal número com carradas de zeros, antes de fazer a fatal correcção, que, afinal era incorrecta.
Mea culpa, mea maxima culpa - ao quadrado. Porque já no escrito anterior... O Amigo José Batista e alguns leitores (dos poucos que ainda me restam face a tais enormidades quantitativas) merecem absolutamente mais este pedido de desculpas.
E, obviamente, também o Carlos Medina Ribeiro as merece; um destes dias - e muito bem! - mandar-me-á fazer uns circuitos ainda que curtinhos em redor da mesa de pano verde. Isto se não me der umas tacadas.
Fico-me por aqui, envergonhado, naturalmente. Um chefe de Redacção que tive, quando eu era um puto, disse-me um dia que o jornal pagava-me para trabalhar, não me pagava para pensar.
No caso vertente é o desatino total: nem uma coisa, nem outra. E o meu Sporting perdeu e outras desgraças estão em lista de espera; felizmente, o fado, esse, safou-se.
Amigo José Batista, muito obrigado. Espero que nestes séculos mais próximos não me tenha de corrigir mais argoladas. Pelo menos.
Quinhentos
Não respondo a provocações... Já bastou a gaiola, que incendiou as, digo, os ânimos e o resto.
Gisa
Muito obrigado. Como já disse antes, o agradecimento é devido à leitora querida que ainda me atura. A idade é uma chatice...
Caríssimo Nuno
E o fado ganhou. Neste vale de lágrimas em que estamos a tentar sobreviver, tal a inundação causada, a notícia é boa. O que é cada vez mais raro.
Estou satisfeito; brincadeiras são... brincadeiras, mas eu até cantei fado. Inclusive na «Toca» do Carlos Ramos, com que me atrevi a fazer umas desgarradas...
Porém, o Pai Ferreira disse-me para me deixar dessas cantorias. Com a maior modéstia, penso que se deve ter perdido uma carreira histórica; ou histérica...
Caríssimo Antunes Ferreira
Fique sabendo que é um gosto lê-lo.
E os lapsos que cometeu não são coisa de causar mal ao mundo.
Aliás, eu só os comentei para o obrigar a escrever mais um pouco...
Soubesse o meu amigo de alguns que me acontecem e seguramente choraria pelas minhas desgraças. Acredite que é tanto assim que, para o poupar, a si como a toda a gente, nunca as contarei.
E, atenção, que isto é segredo.
Um abraço.
Insolentíssimo e Caríssimo Amigo e Senhor Professor Doutor Cirurgião José Batista
Se a minha mulher sabe, estou tramado. Isto está a tornar-se um namoro a sério. Fica, absolutamente, entre nós dois; o segredo, obviamente.
Abç retribuído
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