23.11.11

A páginas tantas, Portugal

Por Ferreira Fernandes

LENDO o começo da semana.
Na cozinha, um casal dá conta que a sua casa está a ser assaltada. A velhota reagiu: "Comecei a gritar e ainda fui buscar a vassoura." Naturalmente, não lhe serviu de nada. Dos bandidos, um tinha faca que pôs no pescoço da mulher e outro tinha uma pistola: "Dá um tiro no velho para ele se calar", ouviu-se, sem consequências. Os assaltantes levaram ouro e um relógio.
Noutras páginas, um casal chega a casa às três da manhã. Quatro encapuzados, "todos com caçadeiras em punho", batem no homem, enfiam-no num carro mas abandonam a mulher que ficou à porta de casa. Às cinco da manhã, ela recebe uma chamada do telemóvel do marido. Os raptores pedem um resgate, enquanto se ouvem, ao fundo, gritos do raptado. Onde está uma mulher apavorada, duas horas depois de o marido ter sido raptado? Claro, na esquadra. Os polícias tomam boa nota de tudo, até do telefonema, e o gang raptor é preso no mesmo dia.
Duas histórias dos dias de hoje e de duas desadaptações. A mulher do primeiro casal assaltado ainda pensa que a coisa vai lá com vassouradas. O gang do segundo caso já aprendeu a violência moderna (que atravessa os dois crimes), mas ainda não a ciência que os raptos exigem ("não previna a polícia!", diz-se sempre ou faz-se com que os familiares entendam).
Dos dois enganos, o da velhota é enternecedor e o da brutalidade burra assusta. Ambos são bons subsídios para um País perplexo.


«DE» de 23 Nov 11

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