21.11.11

«Dito & Feito»

Por José António Lima

NA PRIMEIRA tentativa de definição oficiosa do que é o serviço público de televisão, instalou-se a balbúrdia geral – como era de esperar.

O relatório do grupo de trabalho nomeado pelo Governo parte do pressuposto de que os conteúdos de um serviço público televisivo devem cingir-se àqueles que as televisões generalistas privadas tendencialmente não têm vocação para oferecer. E aponta para conteúdos como a divulgação científica e artística, ficção histórica, documentários, modalidades desportivas secundárias, etc. É um pressuposto que tem, pelo menos, alguma lógica na tentativa de definir um conceito compreensível de serviço público.

Mas o relatório do grupo de trabalho levanta algumas questões sensíveis. Uma é propor o fim da RTP-Informação e a limitação dos serviços informativos a noticiários mínimos, o que vai frontalmente contra o modelo que o ministro Miguel Relvas quer pôr em prática. É o que se chama sair, ao Governo, o tiro pela culatra. A outra é defender um serviço público vocacionado para minorias, com programação complementar e audiências baixas, que contraria por completo a tese de um canal «não residual» advogada pelo presidente da RTP, Guilherme Costa, e pelo próprio ministro Relvas. E agora?

Como proposta lateral, o grupo de trabalho sugere ainda a extinção da desacreditada e politizada ERC. O que seria um passo louvável.

Resta uma pergunta final: se já há muito se abandonou o dogma da necessidade de existirem jornais sob tutela do Estado, de uma ‘imprensa de serviço público’, para assegurar a liberdade e a pluralidade da informação (e os poucos casos que restam, como o subserviente Jornal da Madeira ao serviço e às ordens de Jardim, são o exemplo da perversidade desse modelo), o que justifica a manutenção de um indefinível e ruinoso (para todos os contribuintes) serviço público de televisão? Ainda por cima, num tempo de acelerada mudança da oferta televisiva, com dezenas de canais que preenchem todo o tipo de preferências, e novos hábitos de consumo do audiovisual em inovadoras e sedutoras plataformas tecnológicas? E com uma juventude cada vez mais ligada à diversidade da internet e cada vez menos disponível para ver televisão?

O que justifica, de facto, manter um canal generalista de alegado serviço público?
«SOL» de 19 Nov 11

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1 Comments:

Blogger 500 said...

Todos os restantes países da "Europa", que têm um ou mais canais públicos, não consultaram a opinião do articulista e do dr. Duque. Uns - os países - ignorantes, perdulários e controleiros.

21 de novembro de 2011 às 22:58  

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