18.11.11

Vampiros

Por João Paulo Guerra

COM A FALTA de princípios de um agiota e a arrogância de uma potência ocupante, a ‘troika’ fandanga que por aí anda já se arroga o direito de mexer em leis portuguesas.

Verdade se diga que agiotas e ocupantes fazem o que conquistam pela força ou o que lhes consentem por colaboracionismo e é este o caso em Portugal. A lei em foco é o Código de Trabalho onde a ‘troika' quer ver consagrados os cortes dos subsídios de Natal e de férias. Ou seja: a ‘troika' quer legalizar a posteriori uma ilegalidade e torná-la definitiva.

Curiosamente, a pretensão da ‘troika' - que por cá é acatada como uma ordem pela maioria das forças políticas - surgiu logo após estatísticas oficiais da própria União Europeia revelarem que Portugal é o único país europeu em recessão técnica. Já não cabe ao Eurostat diagnosticar que a recessão não é efeito secundário da doença da crise mas sucedâneo inevitável da cura de austeridade. No preciso momento em que se reconhece a catástrofe iminente que resultará do colapso do consumo, agravado pelo refluxo das exportações, a ‘troika' propõe-se dar o golpe de misericórdia à economia portuguesa: alargar aos trabalhadores do sector privado a machadada na massa salarial que lhes irá quebrar ainda mais o poder de compra, ao mesmo tempo que arruinará em definitivo qualquer hipótese de recuperação ao mercado interno nos tempos mais próximos.

A ‘troika' cumpre o seu papel vampiresco, de sugar até à derradeira gota o sangue das suas vítimas. O que custa a crer é que forças políticas, que chegam ao poder arregimentando eleitores com promessas de milhões, se verguem, à revelia de opiniões abalizadas de economistas e de empresários, à receita de depauperar até à ruína a economia de Portugal e até à miséria a vida dos portugueses.

«DE» de 18 Nov 11

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