16.11.11

É o fim

Por João Paulo Guerra

NÃO SE PERCEBE o alarido que aí vai por causa de uma frase do ministro da Economia.

O ministro foi apenas mais um político a anunciar o fim da crise. Os portugueses já deviam, aliás, estar habituados a anúncios deste teor e se não estão é porque não ligam patavina ao que os políticos dizem, o que é mau. É mau porque um dia, excepcionalmente, um político diz alguma coisa de importante e ninguém está a ouvir.

O fim da crise foi anunciado, em primeira-mão e por outras palavras, por Santana Lopes, em Outubro de 2004. Lopes era primeiro-ministro (!) e em entrevista ao Frankfurter Allgemeine proclamou que chegara "o momento", com o seu Governo, de corrigir a política de austeridade dos últimos dois anos, numa indirecta ao efémero combate de Durão Barroso contra o "País de tanga". Santana Lopes não teve a oportunidade histórica de corrigir a política de austeridade mas o chefe do Governo seguinte, José Sócrates, inaugurou formalmente "o princípio do fim da crise" em Agosto de 2009, ano de um farto calendário eleitoral. Aliás, já o ministro da Economia, Manuel Pinho, anunciara em Outubro de 2006 o fim da crise e um "ponto de viragem" na economia.

A originalidade do anúncio do actual ministro da Economia consiste apenas no facto de ter coincidido no tempo com o dia da publicação de dados do INE que contrariam a declaração ministerial. A recessão da economia e o empobrecimento de Portugal aí estão nas estatísticas, não como resultado da doença, mas da cura. Mercado interno de pantanas, devido à ruína do consumo das famílias; exportações em queda, como seria de prever.

O fim da crise começa na própria crise. E não sendo possível marcar-lhe um início, fica apenas de toda esta polémica um simples anúncio: é o fim.

«DE» de 16 Nov 11

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