21.11.11

Palavras

Por João Paulo Guerra

O EMPRESÁRIO Belmiro de Azevedo adquiriu um estatuto que lhe permite dizer o que pensa.

Quer dizer: o direito de dizer o que pensa toda a gente tem nas democracias como a portuguesa. Mas sabe-se que os direitos são meras formalidades se não assentam em condições de independência e desprendimento. Por outro lado, o empresário Belmiro de Azevedo tem autoridade para dizer o que pensa, porque o seu discurso corresponde a uma prática coerente e a uma obra feita. Belmiro de Azevedo é de uma espécie que mais dia, menos dia, se transforma numa ave rara, que é a do empresário que empreende, gera riqueza e cria emprego. Mas enquanto a espécie tem exemplares raros como Belmiro de Azevedo haverá quem se incomode com o que ele diz, mesmo que outras pessoas, com menos eco nas palavras, o tenham dito e escrito anteriormente.

E assim, quando o empresário Belmiro de Azevedo diz, como acabou de dizer, que está desiludido com o chefe de Estado e com o Governo, a declaração tem o peso e o efeito de uma pedrada no charco de um consenso postiço. E quando o empresário Belmiro de Azevedo critica a política de austeridade, dizendo que "o preço a pagar pelo equilíbrio das contas não pode ser a miséria absoluta e o nascimento de um exército de excluídos", as palavras têm o efeito de munições perfurantes na unanimidade de conveniência que vai unindo no mesmo saco Governo e alguma oposição.

Para que esta crónica não seja um ámen, aqui fica o registo sobre a ingenuidade do empresário ao admitir que o Governo ainda arrepie caminho e que Portugal saiba enfim para onde vai. A grande questão nas políticas não é tanto a da sua competência, mas a dos interesses e propósitos que deliberadamente servem. Em outras circunstâncias, o empresário já abordou o assunto.

«DE» de 21 Nov 11

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