22.11.11

Esquerda

Por João Paulo Guerra

EM ESPANHA, a esquerda que dá tranquilidade à direita, como diz a esquerda desalinhada, foi varrida da cena do poder por um candidato de direita com um vasto cadastro de derrotas eleitorais.

Na mesma ocasião, em Portugal, a esquerda doméstica, e domesticada, reuniu-se com os respectivos sindicalistas mas não falou da greve geral. É histórico e a história mais recente está a confirmá-lo: há uma certa esquerda tão formatada pela democracia formal e pelos interesses do poder económico que mal se distingue da direita. Por exemplo, a diferença entre a coligação PSD/CDS no poder em Portugal e a oposição PS de António José Seguro é a distância que vai entre cortar os dois ou só um dos meses na contagem dos salários anuais. No meio da desgraça geral um salário por ano pode aliviar um pouco, mas na substância essa batalha não altera nada.

O descrédito desta esquerda está bem à vista nos mais recentes resultados eleitorais na Europa. A esquerda tipo Sócrates ou mesmo género Zapatero ou Papandreou, foi responsabilizada pela crise e varrida do poder pela direita, que tem como símbolos Angela Merkel e Nicolas Sarkozy, para a qual a cultura social da Europa é a mãe de todas as crises e misérias. A esquerda alinhada pela direita poderá parecer mais dada ao clientelismo e à desbunda com dinheiros públicos. Mas os casos da Madeira e do BPN não são de molde a deixar os portugueses descansados quanto à cultura da direita nesta matéria.

De resto, a esquerda contida foi mais longe que a direita que certos aspectos da legislação e da prática sociais. Melhor dizendo, fez o trabalho sujo à direita e estendeu-lhe a passadeira do poder. E agora os seus próprios militantes sindicais não lhe merecem o mínimo sinal de solidariedade e de consideração.
«DE» de 22 Nov 11

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