27.11.11

O Estádio a que o País Chegou

Estádio municipal de Leiria
Por Carlos Fiolhais

MUITA gente se lamenta do estado de quase bancarrota em que nos encontramos. Mas há responsáveis que se passeiam impunemente por aí. Alguns deles são, decerto, os decisores políticos, a nível tanto nacional como regional, que acharam uma boa ideia há cerca de dez anos construir ou reconstruir dez novos estádios para o Euro 2004 de Norte a Sul do país. Pertenço ao pequeno grupo daqueles que, na altura, acharam que essa era uma ideia delirante. Hoje esse grupo alargou consideravelmente pois o delírio custou-nos caro, muito caro.

Só no Centro do país construíram-se três estádios que foram caríssimos e hoje estão quase vazios. Em Aveiro, o estádio do arquitecto Tomás Taveira é o quinto recinto desportivo nacional com maior capacidade (pode albergar 32 000 espectadores), só perdendo para os estádios da Luz, do Dragão, de Alvalade e Estádio Nacional. É a casa do Beira-Mar, mas quase ninguém lá vai assistir aos jogos. Dados os custos insustentáveis, já foi sugerido por líderes locais que se implodisse para construir um estádio menor. Em Coimbra, o estádio chamado “Cidade de Coimbra”, da autoria do arquitecto António Monteiro, é um gigantesco OVNI (leva 30 000 pessoas), numa zona da cidade que merecia melhor. O campo pertence à Câmara Municipal de Coimbra que, por causa da dívida exigida pela obra, ficou sem dinheiro para mandar tocar um cego. No último jogo da Taça de Portugal aí realizado, no qual a Associação Académica de Coimbra venceu o Futebol Clube do Porto não estiveram mais do que dois mil espectadores. O Presidente da Académica já sugeriu a destruição do estádio e a construção de um outro menor. Mas, pasme-se!, existe um outro estádio, muito perto da cidade, o “Sérgio Conceição” (ostenta o nome de um jogador que ficou conhecido pela sua indisciplina), que pertence também à Câmara... Finalmente, em Leiria, há o terceiro grande estádio municipal da região Centro (leva 30 000 pessoas), da autoria de Tomás Taveira tal como o de Aveiro. O estádio de Leiria deixou de ser o cenário dos jogos da equipa local, a União de Leiria, em virtude do reduzido número de espectadores e das despesas incomportáveis de manutenção. A equipa de hóquei em patins de Turquel, uma freguesia do distrito de Leiria, gaba-se de ter jogos que são vistos por 1400 espectadores, mais do que as pessoas que vão ver muitos jogos de futebol do União de Leiria, que hoje joga na Marinha Grande. Perante o descalabro financeiro, a Câmara de Leiria não teve outro remédio senão colocar o seu estádio em hasta pública por 63 milhões de euros. Não houve, no mês passado, quem ocorresse ao leilão.

No resto do país a situação não é muito diferente. No Norte, o Boavista tem um estádio que é usado pela sua equipa que milita no terceiro escalão do futebol nacional. No Sul, o Estádio do Algarve é um outro grande monumento à estupidez humana, pois tem permanecido ainda mais desocupado do que os seus congéneres.

Tudo isto era previsível e podia ter sido evitado. Não o foi foi porque havia na época uma enorme loucura colectiva. Os políticos moviam influências e a banca emprestava dinheiro com uma facilidade que hoje nos espanta. Ainda ninguém fez acto público de contrição Os nossos estádios estão aí vazios tal como os nossos cofres.
Revista "C" de 24 Nov 11

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3 Comments:

Blogger Bmonteiro said...

«responsáveis que se passeiam impunemente por aí»
Um Pôlvo à portuguesa:
Por aqui, Paris, Londres, Bruxelas ou ONU.
Os autores de um conjunto de crimes económicos que haviam de levar o país à bancarrota.
Lembro uma pequena coluna de Vasco Pulido Valente então no DN, a dar conta do abuso, quando seis campos chegariam.
E os miseráveis suiços, que fizeram melhorias nos estádios existentes.
Nos ministérios, parlamento, autarquias & alta economia, um misto de Ali Babá e Al Capone, invadiu e tomou conta do regime.
A bem das oligarquias do Regime.

27 de novembro de 2011 às 21:24  
Blogger ZéZé de Moledo said...

Aos estádios o autor poderia juntar não sei quantos poli-desportivos semeados e esmo pelo rectângulo, ainda dezenas de auto-estradas onde não passa vivalma (aconselho um passeio entre Fafe e V.P. de Aguiar depois esperem pela auto-estrada para Bragança!!!),praças de touros (sugiro uma visita ao Alandroal para apreciar uma praça com capacidade para 15.000 numa vila de 2500 habitantes) as 300 rotundas de Viseu de que se ufana F. Ruas etc etc etc. Mas não estou de acordo com o prof.: A culpa não é nossa, em todos estes aparentes desatinos colectivos há o dedo invisível do hegemonismo teutónico, portanto o mínimo que pode fazer a frau Merkel é aceitar, sem piar, os bonds, a mutualização, a emissão de papel, a desvalorização do euro, a instrumentalização do BCE etc etc. Nós não temos culpa de não gostar de viver para trabalhar como o gélidos do norte!

27 de novembro de 2011 às 22:54  
Blogger brites said...

POR ALGUMA RAZÃO QUE TENHA,NÃO VALE VOLTAR À VACA FRIA.
tambem os que receberam subsidios,bolsas,etc., poderiam ter poupado ou recusado,nao o fizeram, desde que beneficiasse o seu quintal...

Todos os setores foram perdulários,ninguém deve querer sacudir a água do capote

_(

28 de novembro de 2011 às 08:57  

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