Mandar emigrar começa a ser mania
Por Ferreira Fernandes
HÁ TEMPOS foi um secretário de Estado a convidar os jovens a emigrar, agora é o primeiro-ministro a propor o mesmo aos professores, irem para Angola ou Brasil.
Depois do "faça férias cá dentro", o slogan "vá trabalhar lá fora"...
Quando do primeiro convite para zarpar, escrevi: "Ide embora" pode não ser um mau conselho. Deu-o o meu bisavô ao meu avô, disse o meu avô ao meu pai, fiz eu pela minha vida em três países, decidiu a minha filha - ir embora. Se uma família honesta o fez, por que não dois honestos cidadãos a dizê-lo?
Mas da primeira vez que escrevi, acrescentei um porém: para político, "ide embora!" é curto. Do secretário de Estado da Juventude esperam-se propostas para fazer cá dentro. Porque conselhos sobre soluções naturais, como emigrar ou respirar, os portugueses não precisam, está-lhes no ADN. E, agora, quando Passos Coelho reitera o convite a alguns para emigrar, o meu porém aumenta. É que nas emigrações em geral os governantes podem lavar as mãos, chega o desenrascanço tradicional do candidato a ir embora. Mas na específica emigração de professores, não: são necessários prévios acordos com os países para onde vão.
Passos, tão expedito a mandar os outros trabalhar longe, não mostrou o trabalho que ele - com a rara sorte de português ainda a poder trabalhar em casa - deveria ter feito: acordos com Angola e Brasil. Era mostrando-os que devia ter começado a conversa.
«DN» de 19 Dez 11HÁ TEMPOS foi um secretário de Estado a convidar os jovens a emigrar, agora é o primeiro-ministro a propor o mesmo aos professores, irem para Angola ou Brasil.
Depois do "faça férias cá dentro", o slogan "vá trabalhar lá fora"...
Quando do primeiro convite para zarpar, escrevi: "Ide embora" pode não ser um mau conselho. Deu-o o meu bisavô ao meu avô, disse o meu avô ao meu pai, fiz eu pela minha vida em três países, decidiu a minha filha - ir embora. Se uma família honesta o fez, por que não dois honestos cidadãos a dizê-lo?
Mas da primeira vez que escrevi, acrescentei um porém: para político, "ide embora!" é curto. Do secretário de Estado da Juventude esperam-se propostas para fazer cá dentro. Porque conselhos sobre soluções naturais, como emigrar ou respirar, os portugueses não precisam, está-lhes no ADN. E, agora, quando Passos Coelho reitera o convite a alguns para emigrar, o meu porém aumenta. É que nas emigrações em geral os governantes podem lavar as mãos, chega o desenrascanço tradicional do candidato a ir embora. Mas na específica emigração de professores, não: são necessários prévios acordos com os países para onde vão.
Passos, tão expedito a mandar os outros trabalhar longe, não mostrou o trabalho que ele - com a rara sorte de português ainda a poder trabalhar em casa - deveria ter feito: acordos com Angola e Brasil. Era mostrando-os que devia ter começado a conversa.
Etiquetas: autor convidado, F.F
11 Comments:
Na sua quinta entrevista em dez dias, Pedro Passos Coelho seguiu o exemplo dado pelo secretário de Estado do Desporto e por Miguel Relvas de aconselhar portugueses a emigrar.
Desde a alteração à lei que permitirá instalar câmaras de filmar em qualquer local público, mesmo sem pressuposto de razoável risco de criminalidade, por mera e inquestionável vontade do Governo, passando pelo uso de agentes da autoridade como elementos provocadores, terminando em todas as baboseiras que diariamente escutamos deste corpo governamental, esta orientação política de mandar os portugueses embora da sua terra é a coisinha mais estúpida que nos tem caído em cima.
Expliquem ao senhor Coelho, porque eu não tenho paciência, que uma pessoa com família, com filhos e outras responsabilidades, não vai ali a Angola dar umas aulitas e volta para a tempo de fazer o jantar.
Expliquem ao senhor Coelho, porque eu não tenho tempo, que fala demais, faz de menos e mal, que este país é dos portugueses que o elegeram para resolver os seus problemas. Não foi eleito para vender o património, encaminhar as pessoas para a saída, fechar a porta e apagar a luz.
Já agora, esqueçam o que eu disse, faça-se como o Primeiro deseja, vamos todos para o Biafra e deixemos este demagogo a pagar as contas sozinho.
Caro "Arame Farpado"
A uma escala menor, é o que eu faço em relação a Lisboa - "emigro":
Nos últimos tempos, tenho dado em doido com o trânsito, o lixo, a incúria, a insegurança, a desumanização... - dessa cidade onde vivo há 63 anos e nunca vi tão maltratada.
E o pior é que os habitantes parecem gostar dela assim!
Sempre que posso, meto-me no carro ou no comboio e fujo dela.
Ontem passei umas horas em Sintra, e agora estou em Lagos a passar uns dias.
São sempre saborosas as crónicas de M. António Pina, no JN.
Aqui fica esta, de hoje, sobre o mesmo assunto:
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«Nós, as "gorduras"»
Primeiro foram os jovens desempregados a receber do secretário de Estado da Juventude guia de marcha para fora de Portugal; agora coube a vez aos professores, pela voz do próprio primeiro-ministro.
No caso dos professores, a coisa passa-se assim: o ministro Crato varre-os das escolas; depois, Passos Coelho aponta-lhes a porta de saída do país: emigrem, porque Angola e Brasil "têm uma grande necessidade (...) de mão-de-obra qualificada". Portugal (que é um dos países da Europa com mais baixos níveis de escolarização, segundo o Relatório do Desenvolvimento Humano de 2011, divulgado no mês passado pelo PNUD) não tem, como se sabe, necessidade de mão-de-obra qualificada.
E, como muito menos tem necessidade de mão-de-obra "desqualificada", ninguém se surpreenda se um dia destes vir o secretário de Estado do Emprego e o novo presidente do Instituto do Emprego e Formação (?) Profissional a mandar embora quem tiver como habilitações só o ensino básico; o ministro da Segurança Social a pôr na rua pensionistas e idosos (para que precisa Portugal de pensionistas e idosos, que apenas dão despesa?); o ministro da Saúde a dizer aos doentes que vão morrer longe, em países sem listas de espera e com taxas moderadoras em conta; o da Defesa a aconselhar os militares a desertar e ir para sítios onde haja guerras; e por aí adiante...
Percebe-se finalmente o que são as tais "gorduras do Estado": são os portugueses.
Esta crónica é fabulosa. Como costumam ser todas as de Manuel António Pina.
Olhe, caro CMR, bem que as podia publicar todas, depois de saídas no jornal, caso o autor não se importasse...
Mas como textos de entrada, naturalmente.
Quanto à emigração, só é pena não podermos recomendá-la publica e atempadamente a certos mandantes. Antes de eles cometerem os crimes que nos transportam para o abismo.
Com a "nossa" colaboração, diga-se.
José Batista
Eu bem gostava de convidar o M.A.Pina, mas não tenho o contacto dele...
Oh diacho, eu também não.
Mas, ó gentes que passam por aqui,vamos tentar saber qual é o contacto de Manuel António Pina?
E se pedíssemos ao Diretor do Jornal de Notícias que lhe desse conhecimento do nosso interesse?
Por exemplo através de um textinho de poucas linhas, do tipo:
"Caro Manuel António Pina, os abaixo assinanados pedem-lhe encarecidamente que permita que se publiquem as suas crónicas saídas no Jornal de Notícias (ou outras), com o tempo de atraso necessário para não quebrar quaisquer contratos ou afetar a procura do jornal, no blogue Sorumbático, dirigido por Carlos Medina Ribeiro. Para o contactar solicitaram a colaboração do Exmo Diretor do Jornal de Notícias
Os interessados:
(...)"
Talvez tenhamos sorte. Quantos estarão interessados? Ora digam...
Bem... Agora, trata-se de saber o e-mail do director do JN...
Vou tentar pela Alice Vieira, que escreveu para lá durante muitos anos.
Fui à página do JN, mas só encontrei isto:
Correio electrónico da Redacção
Direcção: secdir@jn.pt
Obrigado, caríssimo.
Vou, então, tentar obter o que queremos.
Caro J. Batista
Já está...
Obrigado, Carlos Medina Ribeiro.
Grande abraço.
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