Agora é o açúcar
Por Manuel António Pina
PARECE que a Comissão Parlamentar da Saúde levou a sério e discutiu ontem uma petição de quatro (!) estudantes de Tomar que, apoiados no impressionante número de 145 assinaturas, reclamam uma lei que obrigue a que os pacotes de açúcar servidos nos cafés com a "bica" não tenham mais de 6 gramas. Isto para combater "a diabetes, a obesidade [e as] doenças cardiovasculares e cerebrovasculares".
Um dos problemas das cruzadas é acordarem o macho alfa adormecido em indivíduos normalmente sociáveis e pacatos que, sentindo-se de súbito possuídos de um "espírito de missão", logo se congregam em matilhas punitivas ou disciplinadoras.
A cruzada higienista em curso não foge à regra. Basta ver as reacções que suscitam os anúncios de medidas restritivas contra os "outros", os que persistem em continuar a manter hábitos contrários à causa: "Ai eles persistem?, que os obriguem!"
A lei substitui hoje a espada. Campanhas de informação que contribuam para uma opção livre e informada não bastam, há que"vigiar e punir". E, assim, vão-se sucedendo as leis ("pessima republica, plurimae leges", isto é, "mau governo, muitas leis"). E os disparates também: não passou pela cabeça dos jovens cruzados de Tomar que, mesmo que os pacotes tenham um quilo de açúcar, ninguém é obrigado a despejá-los na "bica", ou que, se tiverem só 6 gramas, quem gostar dela muito doce só terá que pedir mais um pacote (ou dois, ou três) ao empregado.
«JN» de 19 Jan 12
PARECE que a Comissão Parlamentar da Saúde levou a sério e discutiu ontem uma petição de quatro (!) estudantes de Tomar que, apoiados no impressionante número de 145 assinaturas, reclamam uma lei que obrigue a que os pacotes de açúcar servidos nos cafés com a "bica" não tenham mais de 6 gramas. Isto para combater "a diabetes, a obesidade [e as] doenças cardiovasculares e cerebrovasculares".
Um dos problemas das cruzadas é acordarem o macho alfa adormecido em indivíduos normalmente sociáveis e pacatos que, sentindo-se de súbito possuídos de um "espírito de missão", logo se congregam em matilhas punitivas ou disciplinadoras.
A cruzada higienista em curso não foge à regra. Basta ver as reacções que suscitam os anúncios de medidas restritivas contra os "outros", os que persistem em continuar a manter hábitos contrários à causa: "Ai eles persistem?, que os obriguem!"
A lei substitui hoje a espada. Campanhas de informação que contribuam para uma opção livre e informada não bastam, há que"vigiar e punir". E, assim, vão-se sucedendo as leis ("pessima republica, plurimae leges", isto é, "mau governo, muitas leis"). E os disparates também: não passou pela cabeça dos jovens cruzados de Tomar que, mesmo que os pacotes tenham um quilo de açúcar, ninguém é obrigado a despejá-los na "bica", ou que, se tiverem só 6 gramas, quem gostar dela muito doce só terá que pedir mais um pacote (ou dois, ou três) ao empregado.
«JN» de 19 Jan 12
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1 Comments:
Ainda bem que alguém pega nestes casos ,aparentemente inofensivos, para nos mostrar nos monstrinhos em que nos tornamos,impavida e serenamente...
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