31.1.12

Cavaquistas

Por João Paulo Guerra

O PROFESSOR Marcelo - figura de uma nova iconografia mediática portuguesa - atiçou mais uma acha da fogueira.

É o velho espírito traquinas do miúdo que tocava às campainhas que, volta e meia, regressa à superfície e às primeiras páginas. Desta vez foi pelo aviso que deixou aos "cavaquistas anónimos" pedindo-lhes que "desamparem a loja" do cavaquismo real e profundo. A referência à "loja", na atual conjuntura, poderia trazer água no bico, ou ser mesmo "imprudente", como dizem agora os comentadores desportivos quando um atleta entra com as patas e os pitons às pernas, braços, cabeça ou tronco do adversário. Mas não é o caso. Quem o professor quis atingir foram os cavaquinhos, que saem, em dimensões cada vez mais diminutas, da grande matrioschka do cavaquismo, todos eles invocando em vão o santo nome do mestre.

Alguns destes cavaquistas anónimos colaram-se recentemente a críticas veladas do cavaquismo real, verberando os valores ultraliberais do ministro das Finanças em nome da social-democracia. Criticando os críticos em nome do cavaquismo de raiz, o professor Marcelo está a contribuir para a monda do cavaquismo. Mas está também a não deixar esquecer que quem começou este processo de denúncia e seleção foi Cavaco, o próprio, quando lançou a calda da equidade sobre a cultura fiscal.

As reações não se fizeram esperar. Marques Mendes, outro ícone, classificou já a colagem de cavaquistas não autorizados às críticas do cavaquismo autêntico como "um mau serviço ao País"; o próprio secretário-geral do PS sentenciou que "não é o momento" para "desavenças" entre setores da maioria; e o professor Marcelo falou da cátedra do pequeno ecrã.

A grande questão é que, com tanta gente a falar, não se percebe o que diz o próprio Cavaco Silva.
«DE» de 31 Jan 12

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