16.1.12

Ficaram os ‘boys’

Por João Paulo Guerra

PORTUGAL jamais viveu propriamente em regime de vacas gordas.

Mas agora deixou morrer as próprias vacas magras. E depois? Depois, morreram as vacas mas ficaram os ‘boys'.

O atual do secretário de Estado do Emprego, há um ano, então na qualidade de economista opinante, criticou as nomeações políticas para cargos públicos e o facto de todos os partidos prometerem acabar com a vilanagem, enquanto todos os governos cultivam a distribuição de ‘jobs' pelos respetivos ‘boys'. "Todos fazem o mesmo", disse o então economista, pressagiando o que estava para vir: o Governo do qual o próprio faria parte. Confirma-se agora: "Todos fazem o mesmo".

Não é de agora e já Ramalho Ortigão, em Novembro de 1881, zurzia em "As Farpas", os que se andavam a "amamentar, a expensas do reino, pela vaquinha de leite da pública governação". O que quer dizer que Portugal tem tradição e ‘know-how' em matéria de distribuição e apanha de tachos. Nos tempos da ditadura contava-se mesmo que um conhecido tachista era comparável a um autocarro da Carris: tinha 40 lugares, todos pagos.

Em democracia, não tardou a comezaina. Cada partido que foi chegando ao poder - na estrita rotação trifásica entre PS, PSD e CDS - atafulhou os quadros do Estado com a respetiva rapaziada. Muitos devem ainda lá estar e talvez nem se recordem já quem os nomeou: se o partido a que pertenciam, se aquele a que passaram a pertencer.

O raciocínio é simples: quem ganha eleições - ou quem é cooptado para parceiro pelo vencedor - distribui o produto do saque, como outrora faziam os vencedores das batalhas. Não há limites e a ideia é rapar o tacho enquanto é tempo, rapidamente e em força. E depois quem paga é a democracia, que o tachismo transforma numa cópia esborratada do chamado governo do povo.
«DE» de 16 Jan 12

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