13.1.12

A guerra de braguilha aberta

Por Ferreira Fernandes

UNS FUZILEIROS americanos filmaram-se a urinar sobre cadáveres de talibans, no Afeganistão.
O vídeo corre mundo, os talibans indignam-se contra os americanos, Hillary Clinton indigna-se contra aqueles americanos, mas não é porque o ato é obsceno, cobarde, doentio (claro, merecedor de censura, claro, exigindo penas duras), não é por isso que deixa de ser normal. Nessa guerra que vai em breve fazer cem anos, ainda lhe chamavam Grande sem se suspeitar que era só a Primeira de uma série, os alemães (para citar os menos simpáticos) alertaram os observadores neutrais para um uso dos ingleses e franceses: estes faziam "colares de orelhas"...
A guerra, pois. Ficam-nos bem os esforços para lhe minimizar os horrores, mas ela nunca será boa, nem quando necessária. Os generais que digam definitivamente da guerra o que Mao Tsé-tung dizia da revolução: não é um convite para jantar.
Felizmente houve sempre artistas que nos alertaram, de Goya a Stanley Kubrick. Camponeses fogem da sua aldeia saqueada e alguém pergunta a uma mulher sobre os culpados: brancos ou vermelhos, bons ou maus, dos nossos ou dos outros? E a mulher: "Soldados" (in Doutor Jivago).
A guerra, pois. A novidade são os telemóveis que filmam. Antes a guerra era-nos filtrada pela memória dos que lá andaram ou pelo talento dos artistas. Agora chega-nos directamente dos protagonistas, tão pueris como os pasteleiros da Teresa Guilherme, mas muito mais perigosos.
«DN» de 13 Jan 12
NOTA (CMR): o vídeo em causa pode ser visto [aqui].

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