12.1.12

Litemerer Rfaeani Aelu

Por Ferreira Fernandes

PELA 37.ª vez, pergunto: do que estamos a falar quando estamos a falar?
Dava jeito, para não me repetir, que Manuela Ferreira Leite não falasse em público. Já quando foi dos seis meses para suspender a democracia tive de vir aqui controlar os danos. Mas mais do que as fórmulas perigosas da senhora encanitam-me as interpretações que se fazem sobre o que ela, não tendo dito, permite que se diga que disse.
Basta um bocadinho de má-fé (ou simples receio de que ela tenha mesmo dito o que parece) para distorcê-la até à enormidade.
Desta vez, a uma pergunta de Ana Lourenço (SIC Notícias) - "Não acha abominável que se discuta que alguém com 70 anos tenha direito à hemodiálise ou não?" -, MFL saltou (a pergunta nem era para ela) e respondeu: "Tem sempre direito se pagar."
A resposta até pode ser óbvia: quem paga tem sempre direito. E até podia ser corajosa: em apartheid, era bom ouvir uma dirigente dizer que um negro, se fosse rico, tinha direito à hemodiálise dos brancos.
Só que MFL falava aqui e anteontem. Ora o problema, aqui e anteontem e hoje, é este: "Pode um velho de 70 anos não ter hemodiálise por não poder pagá-la?" E a resposta tinha de ser: "Não."
E, dito isso, avançava-se, talvez assim: "Se os velhos ricos tiverem a hemodiálise de borla hoje, talvez amanhã os velhos pobres não a tenham..."
Era isso que MFL queria dizer? Então dissesse-o com sentido: também no título estão as letras do seu nome e percebe-se mal.
«DN» de 12 Jan 12

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2 Comments:

Blogger ZéZé de Moledo said...

Retórica, quase tudo!

A drª MFL tem realmente uma queda para os Lapsus Linguae. Eu até acredito que ela não queria proferir aquela "abominável" afirmação, mas penso igualmente que a afirmação que pretenderia explicitar não traduz, aliás leva ao engano, sobre o real objectivo da comparticipação via "taxa moderadoras". Indo directamente à questão: Ao obrigar as classes menos miseráveis ou mais abastadas a comparticiparem (pela 2ª vez) os cuidados de saúde universais estão de facto a empurra-se para fora e, logo de seguida, a justificar o encolhimento do orçamento do SNS e, em consequência,a conduzir este a um sistema residual para classes C e D--.
Com o "plafonamento" das pensões o desiderato é sensivelmente o mesmo.Também aqui, a retórica usada parece conter linhas de justiça e até de moralização: acabar com ou limitar a pensões douradas e a sua acumulação dado o encargo insuportável para o Estado. Claro que não estão a pensar nas pensões de Catroga, Mira Amaral etc..
Como alguém diria -com a verdade me querem enganar-.

12 de janeiro de 2012 às 17:51  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Passa-se, com algumas pessoas importantes (políticos, mas não só), uma coisa curiosa:

Fazem determinadas afirmações e, em caso de "darem barraca", sucede uma de duas:

Ou vêm dizer que foram citados fora do contexto, ou vêm explicar o que quiseram dizer...
Há ainda a situação ultra-caricata de serem os amigos ou os apaniguados a virem "explicar" as palavras do "superior".
Com isso, estão a chamar burros aos ouvintes (ou leitores) - porque não perceberam; mas, ao mesmo tempo, estão a dar um atestado de "incapacidade comunicacional" a quem não sabe expor claramente as suas ideias em público.

(A propósito: MFL não foi ministra da Educação?)

13 de janeiro de 2012 às 13:22  

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