12.1.12

O monstro na primeira página

Por Manuel António Pina

A DESAVERGONHADA afirmação pública de Manuela Ferreira Leite ("abominável" lhe chamou justamente a jornalista que orientava o debate da SIC em que a afirmação foi proferida) de que doentes com mais de 70 anos que necessitem de hemodiálise a devem pagar é, sabendo-se que a alternativa à hemodiálise é a morte em poucos dias, um eloquente sinal dos tempos que vivemos e da qualidade moral de certas elites hoje influentes no país.

A conveniente "correcção" que, apercebendo-se da brutalidade do que dissera, a ex-dirigente do PSD fez a instâncias de outro interveniente no debate (afinal só quisera dizer que "uns têm [a hemodiálise] gratuitamente, outros não", consoante a capacidade financeira), é patética: se foi isso que quis dizer, porquê os 70 anos?; porque não se aplicará o critério financeiro a doentes com menos de 70 anos?

A ideia de que pessoas com mais de 70 anos só tem direito à vida, que é o que representa um tratamento extremo como a hemodiálise, pagando - independentemente de terem, durante anos e anos, entregue ao Estado parte substancial dos seus rendimentos para garantir o seu direito a assistência na doença - talvez seja aceitável vindo da mesma mente tortuosamente contabilística que em tempos também defendeu a suspensão da democracia. Que mentes dessas tenham púlpito num canal de televisão só se compreende pela política do "monstro na primeira página" que domina hoje o jornalismo português.
«JN» de 12 Jan 12

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1 Comments:

Blogger José Batista said...

Sim, Manuela Ferreira Leite tem propensão para as frases aberrantes.
Estou em crer que não é apenas um problema de linguagem. Que ela torna ainda mais deprimente e revoltante quando precisa de se (voltar a) explicar.
Um dia ouvi um homem que terá sido (fugazmente?...) professor dela - Augusto Abelaira - chamar-lhe qualquer coisa como contabilista insensível e incorrigível...
Ouvi também a algumas pessoas que a senhora usufrui de uma data de reformas/pensões de valor escandaloso.
Não haverá ninguém que faça o favor de lhe dizer que mais vale estar calada? Nem que lhe pergunte se acha justo que receba tanto num país onde tantos ganham tão pouco ou nada?
Que pensará ela que fez pelo país?
Acaso imaginará que algum cidadão português lhe deve alguma coisa?
Pela parte que me toca, há muito que perdi a paciência.

12 de janeiro de 2012 às 22:56  

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