14.1.12

Pastel de nata: exportar!

Por Antunes Ferreira

UMA TERRA em que o ministro da Economia recorreu ao exemplo dos pastéis de nata, como um produto nacional de sucesso, para mostrar que o esforço de internacionalização dos produtos portugueses falhou nas últimas décadas, não é um País é uma anedota pornográfica.

Uma terra em que o dito governante se interrogou e inquiriu quem o ouvia: «um dos produtos mais emblemáticos de Portugal é o pastel de nata e, apesar do seu sucesso, porque é que não conseguimos exportá-lo?” não é uma anedota pornográfica – pornográfico é, sim, o maxi-salário que vai auferir Eduardo Catroga na EDP, Marques Mendes dixit – é um zero à esquerda da vírgula.

Estou farto. Estou farto de ouvir quotidianamente as mentiras do Dr. Pedro Passos Coelho; estou farto de ser roubado quotidianamente pelo Professor Vítor Gaspar; estou farto de ser agredido quotidianamente pelo Dr. Álvaro Santos Pereira, que tem muito orgulho em ser Português e não se cansa de dizer baboseiras; estou farto do Dr. Paulo Portas, do Dr. Paulo Macedo, do Dr. Miguel Relvas. Finalizando, estou farto das asneiradas e das baboseiras do Prof. Aníbal Cavaco Silva.

E, daqui a muito pouco, estarei farto deste triste Portugal que não presta, porque nós os Portugueses não prestamos. Na generalidade, porque, felizmente, na especialidade ainda vamos tendo compatriotas entre os melhores do Mundo. Só não aceito os conselhos desvelados do Dr. Passos Coelho, do Dr. Mestre, do Dr. Rangel porque já não tenho idade, nem coragem, para emigrar.

Mas – as adversativas são geralmente traidoras, neste caso, não – é por isso que hoje vos deixo por uns tempos, pois felizmente consigo ir até Goa e outras Índias na próxima quinta-feira, 19. Felizmente para mim – e para a minha mulher, que é de lá – porque me afasto deste luto que me enche os dias; felizmente para os que ainda me aturam os constantes desabafos magoados, quiçá mesmo lamurientos.

Muitos Goeses costumam dizer que eu sou mais goês do que eles próprios. Cada vez mais me confesso de acordo com essas opiniões meio brincadeiras, meio sérias. Em tempos, disse e escrevi que se pudesse escolher uma terra para morrer em paz, ela seria Goa. Hoje, corrijo-me. Uma terra para viver em paz é Goa. Só que não posso ficar por lá: os filhos, as noras, a neta e os netos estão cá…

Pronto, é assim mesmo. Para a semana não haverá texto, nem na que se segue; sei lá quando haverá. Tenho, garanto-vos, a intenção de ir escrevinhando umas coisas de teor local. Não sei se os leitores estarão interessados nelas. Ou, até, se algum rejubilará por se ver livre de mim, pelo menos até 17 de Abril, em que – infelizmente -, voltarei.

Dir-me-ão que por lá também existem dificuldades, quiçá muito maiores do que aquelas com que vamos tentando sobreviver por aqui. O que, tenho de o reconhecer, é verdade. Porém, sublinho, egoisticamente, que não me preocuparei com agora estou preocupado. E desanimado. Resta-me o calino com o mal dos outros…

Termino. Não vou, sequer, abrir a RTP Internacional, se é que ela ainda subsistir. Não vou fazê-lo para não ter de ver e ouvir dizer que o pastel de Belém – o de nata, claro – é um produto de exportação que nós nunca soubemos… exportar. Não quero ouvir e ver que foram aplicadas mais medidas de austeridade. Recuso saber se as taxas moderadoras foram aumentadas, que os impostos subiram, que os transportes, a energia e o pastel de nata subiram.

E por aqui me fico; peço-vos desculpa desta lamentação e dos termos pessoais que plantei nesta crónica. Deu borem korum, que o mesmo é dizer muito obrigado – mas em concani.

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5 Comments:

Blogger Unknown said...

Antunes Ferreira,
este país é desesperante de tanta estupidez. Se o Gaspar a taxasse não mais haveria défice. Os nossos governantes são de uma visão bacoca e o povo não sabe argumentar porque falta-lhe o básico: capacidade de analisar o mundo em que vive.
Um povo educado para isto mesmo não pode, porque não sabe, abstrair-se da árvore que tem à frente e o impossibilita de a floresta ver.
O desabafo é, pois, compreensível e justificado.
Faça boa viagem.
Cumps.

14 de janeiro de 2012 às 10:24  
Blogger José Batista said...

Caro Antunes Ferreira:

Livre-se de ficar por lá.
Para além da família e dos netos há outras pessoas...
Lembre-se de que os que nós queríamos "exportar" são outros (não a si). Eu, por exemplo, se pudesse, despachava já alguns dos que refere e outros que acrescentaria (dos do "arco do poder", presente e passado: passado recente e menos recente).

E vá dizendo alguma coisa.

14 de janeiro de 2012 às 12:49  
Blogger Maria said...

AF
Estás amargo, hoje, apesar dos pastéis de Belém.
Quando voltares, tudo estará na mesma ou pior mas, vais sentir saudades.
A raiz que te prende a este torrão, dará sinal de si, quando o avião sobrevoar Lisboa.
Não te esqueças de nós, lá pela velha e linda Goa.
Distrai-te, mata saudades dela e, quando voltares, eu estou à espera de ler as tuas crónicas sempre inesperadas e cheias de ironia. Uma ironia que quem te conhece, se mistura com uma enorme sensibilidade.
Abraço da sempre amiga
Maria

14 de janeiro de 2012 às 19:42  
Blogger brites said...

Aqueles
que querem desistir do país já deviam ter ido!

Quando há fartura,Portugal é lindo!
Agora que é preciso lutar para não perder a dignidade,fogem!

Somos fracos e oportunistas.

15 de janeiro de 2012 às 10:28  
Blogger 500 said...

Seria uma boa ideia levar um baú com pastéis de Belém a distribuir pelas Índias. Divirtam-se.

15 de janeiro de 2012 às 22:36  

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