19.1.12

"Volta para bordo, porra!"

Por Ferreira Fernandes

DE 'T-SHIRTS' a toque de telemóvel, a frase italiana tornou-se estrondo. Como se precisássemos todos de a ouvir para nos curar da modorra ambiente: "Vada a bordo, cazzo!", o que em português suave pode ser traduzido como "Volta para bordo, porra!". Foi gritada por Gregorio De Falco, do porto de Livorno, capitão em terra mas com o brio de lobo do mar que faltou ao famigerado comandante do barco de cruzeiro naufragado.
Francesco Schettino, comparei-o há dias, é um banana como a Europa que perante um perigo foge às suas responsabilidades. Ontem, o Corriere della Sera trouxe para editorial a comparação entre a pusilanimidade (palavra com uma dificuldade que os cobardes não merecem) de Schettino e a voz enérgica de De Falco - "Duas Itálias", resumiu o jornal.
Bem mais do que isso, a admiração que reconheci ontem nos portugueses citando a frase demonstrou-me que a ânsia não é só italiana. Precisamos de quem diga "porra", "já!" e "mexa-se" e "vá!", diga os gritos De Falco no seu diálogo telefónico com o fujão.
Há tempos, correu pela Internet portuguesa um abaixo-assinado contra o ponto de exclamação - por razões de estilo talvez fosse uma boa causa. Mas para cidadania bem nos faz falta esse sinalzinho que avisa que o que foi dito não é para discutir, é para executar. "Por favor...", pediu o tíbio. Respondeu De Falco: "Qual 'por favor'! Volte já para bordo!"
Estávamos a precisar de o ouvir.
«DN» de 19 Jan 12

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