28.2.12

As ideias comandam os factos

Por Ferreira Fernandes

O LÍDER da oposição portuguesa publicou ontem no New York Times um texto de opinião. E, também ontem, ele foi distinguido em Lisboa com um doutoramento honoris causa. Falo, claro, de Paul Krugman, Nobel da Economia e porta-voz contra a austeridade. Em Lisboa, ele lembrou que há curas que matam. A austeridade pode ser necessária como uma sangria, mas insistindo nela depois de o doente piorar, sangrando mais um bocadinho, o doente piora ainda mais...
Nos últimos meses, há sábios que garantem que Portugal tem de sair do euro (ping) e não menos sábios que juram que não precisará de sair (pong), o que me basta para confirmar que a economia é um jogo que causa torcicolos.
No artigo do New York Times, escrito para os americanos, Krugman diz que a crise europeia tem uma "narrativa Republicana" (isto é, da direita americana): a culpa é da intervenção do Estado.
Nessa América, a indústria automóvel estava falida há quatro anos. O Presidente Obama enxertou dinheiro público em Detroit e a General Motors acaba de ultrapassar a Toyota como a maior produtora mundial. Porém, os candidatos republicanos, tão divididos entre si, continuam unânimes nisto: o bom é menos intervenção estatal.
O que me convence é que nesta história o único errado é o velho Bill Clinton: "É a Economia, estúpido!", disse ele um dia. Errado, é a política que comanda as mezinhas, a economia é mero pretexto. Não venham lá com factos, que tenho cá as minhas ideias...
«DN» de 28 Fev 12

Etiquetas: ,