28.2.12

Hoje não se fia, amanhã sim

Por Manuel António Pina

O VOTO contra do PCP à adopção por casais do mesmo sexo só surpreendeu quem desconhece os problemas que causou no interior do partido o seu anterior voto favorável ao casamento homossexual.

Conservador, se não reaccionário e marialva, em matéria de "bons costumes", como descobriu Júlio Fogaça, membro do Comité Central expulso do partido por homossexualidade ("razões morais", alegou o PCP, em singular consonância com os "vícios contra a natureza" por que, na mesma altura, o Tribunal de Execução de Penas de Lisboa lhe aplicou gravosas medidas de segurança), o PCP tentou atabalhoadamente justificar o voto contra com "a necessidade de prosseguir o debate e o esclarecimento sobre a questão". Algo do género do "Hoje não se fia, amanhã sim" da "prudência construtiva" e sabidola das antigas mercearias de bairro.

Curiosamente, uns parágrafos antes de garantir que o voto contra do PCP "não significa uma posição de rejeição", o líder parlamentar comunista tinha dito: "Rejeitámos esta alteração no passado (...). É uma posição que manteremos neste debate".

A indignação que vai na Net entre militantes e simpatizantes comunistas, com acusações ao partido de ter assumido uma "postura medieval" e de o seu voto constituir "uma das formas mais abjectas de discriminação social", parece provar que será difícil ao PCP fugir a "este debate" no seu interior com a facilidade obediente e unânime com que lhe fugiu na AR.
«JN» de 28 Fev 12

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