Ordem unida
Por João Paulo Guerra
UM SERMÃO recente do ministro da Defesa destilou um vago odor aos tempos do fim do regime anterior, bafios de uma época, bolores da História.
Ou talvez, muito simplesmente, um vago odor a fim de regime tout court. Seria bem possível que quem ouvisse o palavreado do ministro, fechando os olhos, se recordasse de orações dos tempos em que o regime descobriu que as Forças Armadas eram com efeito o «espelho da Nação». Só que o «espelho» não refletia a imagem da propaganda mas uma representação que ninguém queria ver nem reconhecer. Tudo isto, claro, salvas as devidas distâncias. Por exemplo, abrindo os olhos observa-se que as imagens refletidas no espelho são agora a cores.
De resto, lá está o «pilar do Estado», constituído pelas Forças Armadas, a ameaçar decadência. E lá está, como no antigamente, o ministro a pregar a obediência sem reflexão nem crítica como regra de ouro da ordem unida. «Ninguém é obrigado a ficar» nas Forças Armadas, sentenciou o ministro. Há 40 anos era por este tom que afinava o toque a reunir do Congresso dos Combatentes - afinal, nem Congresso, nem combatentes. Seguir-se-ia um melancólico beija-mão ao poder político, por parte dos generais da arma do reumático, e o Governo encerraria a questão com autoridade e presciência: «Reina a ordem em todo o país».
Acontece que o debate e a oratória do ministro se passam num determinado país, no qual o regime democrático se funda na revolta dos militares contra a ditadura, o pensamento único, o autoritarismo. Já lá vão quatro décadas mas cada vez que militares abrem a boca cai de novo o Quartel do Carmo. «Ninguém é obrigado a ficar», diz-se agora. Há 40 anos o regime era mais duro nas palavras: «Não hesitaremos em expulsar os vendilhões da Pátria». O que não lhe valeu de nada.
«DE» de 3 Fev 12UM SERMÃO recente do ministro da Defesa destilou um vago odor aos tempos do fim do regime anterior, bafios de uma época, bolores da História.
Ou talvez, muito simplesmente, um vago odor a fim de regime tout court. Seria bem possível que quem ouvisse o palavreado do ministro, fechando os olhos, se recordasse de orações dos tempos em que o regime descobriu que as Forças Armadas eram com efeito o «espelho da Nação». Só que o «espelho» não refletia a imagem da propaganda mas uma representação que ninguém queria ver nem reconhecer. Tudo isto, claro, salvas as devidas distâncias. Por exemplo, abrindo os olhos observa-se que as imagens refletidas no espelho são agora a cores.
De resto, lá está o «pilar do Estado», constituído pelas Forças Armadas, a ameaçar decadência. E lá está, como no antigamente, o ministro a pregar a obediência sem reflexão nem crítica como regra de ouro da ordem unida. «Ninguém é obrigado a ficar» nas Forças Armadas, sentenciou o ministro. Há 40 anos era por este tom que afinava o toque a reunir do Congresso dos Combatentes - afinal, nem Congresso, nem combatentes. Seguir-se-ia um melancólico beija-mão ao poder político, por parte dos generais da arma do reumático, e o Governo encerraria a questão com autoridade e presciência: «Reina a ordem em todo o país».
Acontece que o debate e a oratória do ministro se passam num determinado país, no qual o regime democrático se funda na revolta dos militares contra a ditadura, o pensamento único, o autoritarismo. Já lá vão quatro décadas mas cada vez que militares abrem a boca cai de novo o Quartel do Carmo. «Ninguém é obrigado a ficar», diz-se agora. Há 40 anos o regime era mais duro nas palavras: «Não hesitaremos em expulsar os vendilhões da Pátria». O que não lhe valeu de nada.
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1 Comments:
«Ninguém é obrigado a ficar» nas Forças Armadas, sentenciou o ministro»
E eu, mais do que critico que tenho sido ás inexistentes políticas de Defesa, quer a CEM quer a Ministros & Ajudantes, gostaria de ter estado presente e dizer-lhe:
Capaz de admitir alguma razão sobre o que disse, eu acrescentaria:
Saiam, vão inscrever-se: no PSD ou no PS.
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