Trocas
Por João Paulo Guerra
PARECE que os portugueses têm andado renitentes quanto a trocar as derradeiras notas de 100 escudos com a efigie de Fernando Pessoa.
A nota, que saiu de circulação há 20 anos, mantinha ontem stocks avaliados em quatro milhões de euros fora do Banco de Portugal, no último dia para a respetiva troca. A nota circulou durante cinco anos mas o apego ao seu valor cultural e simbólico sobrevive para além do prazo de validade da nota e da própria unidade monetária, o escudo. O valor estimativo, até mesmo de um papel-moeda, não tem cotação a não ser no coração das pessoas. E, neste caso, talvez de mais alguma coisa que o coração.
Ora neste mesmo País, uma cadeia internacional de vendas de livros, discos, filmes e outros consumíveis culturais decidiu promover uma campanha de trocas de livros velhos por livros novinhos, em folhas. E não encontrou melhor slogan para a campanha que "Troque ‘Os Maias' pela Meyer", isto é, troque um monumento da literatura portuguesa e universal por uma historieta de vampiros.
Os autores do slogan, perante os moderados protestos de surgiram de imediato, explicaram que se tratava de um mero "aproveitamento fonético" sem intenção de ofender, embora a emenda tenha sido pior que o soneto. Mas a campanha acabou por retirar a referência à troca de "Os Maias" pelos descendentes degenerados do conde Drácula. Vá lá que ainda há quem proteste de cada vez que o mercado vai ao património e ferra a dentuça em valores culturais que estão bem acima das cotações de compra e venda. Seja como for, faz muita falta na sociedade portuguesa o exemplo do próprio José Maria Eça de Queiroz, em resposta às ameaças da Companhia das Águas: "Se os senhores me cortam o abastecimento eu vou aí e corto-lhes também qualquer coisa..." Remédio santo.
«DE» de 1 Fev 12PARECE que os portugueses têm andado renitentes quanto a trocar as derradeiras notas de 100 escudos com a efigie de Fernando Pessoa.
A nota, que saiu de circulação há 20 anos, mantinha ontem stocks avaliados em quatro milhões de euros fora do Banco de Portugal, no último dia para a respetiva troca. A nota circulou durante cinco anos mas o apego ao seu valor cultural e simbólico sobrevive para além do prazo de validade da nota e da própria unidade monetária, o escudo. O valor estimativo, até mesmo de um papel-moeda, não tem cotação a não ser no coração das pessoas. E, neste caso, talvez de mais alguma coisa que o coração.
Ora neste mesmo País, uma cadeia internacional de vendas de livros, discos, filmes e outros consumíveis culturais decidiu promover uma campanha de trocas de livros velhos por livros novinhos, em folhas. E não encontrou melhor slogan para a campanha que "Troque ‘Os Maias' pela Meyer", isto é, troque um monumento da literatura portuguesa e universal por uma historieta de vampiros.
Os autores do slogan, perante os moderados protestos de surgiram de imediato, explicaram que se tratava de um mero "aproveitamento fonético" sem intenção de ofender, embora a emenda tenha sido pior que o soneto. Mas a campanha acabou por retirar a referência à troca de "Os Maias" pelos descendentes degenerados do conde Drácula. Vá lá que ainda há quem proteste de cada vez que o mercado vai ao património e ferra a dentuça em valores culturais que estão bem acima das cotações de compra e venda. Seja como for, faz muita falta na sociedade portuguesa o exemplo do próprio José Maria Eça de Queiroz, em resposta às ameaças da Companhia das Águas: "Se os senhores me cortam o abastecimento eu vou aí e corto-lhes também qualquer coisa..." Remédio santo.
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1 Comments:
E para que é que os portugueses que têm notas de cem haviam de ir ao banco trocá-las, se iriam receber por cada uma... 50 cêntimos!?
A não ser que tivessem cofres cheios delas...
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