2.2.12

Infelizmente, ele não disse

Por Ferreira Fernandes

COMO SABEM, Portugal, território, está para os portugueses como a Terra Adélia está para os pinguins-imperadores. Terra Adélia, na Antártida, é onde nascem os maiores pinguins, sem ela não haveria imperadores (como sem Portugal, nada de portugueses). Lá, são pinguins quietinhos, os pais guardando os filhos, e os filhos dependentes. Mas mal acaba o inverno, os pinguins emigram, atiram-se ao mar e são fantásticos foguetes rasgando as águas.
Assim são, diz-se, também os portugueses, timoratos em casa mas empreendedores pelo mundo fora. Restava uma dúvida: não se estaria a comparar gente diferente? A que não emigra, mais tímida, e a que ousa partir, mais arrojada?
Ontem, julguei confirmar-se que passar a fronteira - bastava isso! - nos melhorava. Uma notícia publicada por vários jornais espanhóis demonstrava-o com um político português. Sabemos como são os políticos por cá, geralmente retóricos, pomposos: "Vossa Excelência, caro colega, permita-me que lhe diga..." Pois a Rui Rio teria bastado emigrar 120 quilómetros (Porto-Vigo) para discursar com vigor num congresso galego, lançando uma palavra impensável de se dizer por cá: "A ligação ferroviária Porto-Vigo é uma merda." Isso, disse, entre outros, o jornal El Mundo que ele disse.
Mas, infelizmente, foi desmentido, Rio não disse. Se quisermos um português a dizer uma frase daquelas, forte e verdadeira, se calhar temos mesmo de recorrer a um emigrante genuíno.
«DN» de 2 Fev 12

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1 Comments:

Blogger José Batista said...

"Infelizmentissimamente".
Porque ainda há bem poucos anos, num fim de janeiro, ficava eu perplexo com um diário da república em que o traçado dessa malfadada linha passava pela minha rua.
Amargurado, fui ter com o presidente da junta de freguesia, animando-o a iniciarmos um movimento que se opusesse a tal barbaridade: um TGV na minha rua!
Pois, senhores, se mal ia pior voltei. O homem, quando lhe mostrei o mapa (e lhe queria fazer ver a desgraça que ia ser para nós, que nem sequer íamos ter dinheiro para bilhetes de segunda, e que, se fôssemos a Vigo de carro, metíamos gasolina na Galiza, fazíamos compras mais em conta, e era tudo uma pechincha) ficou em êxtase e só me dizia: isto é que vão ser oportunidades! Finalmente vamos ser desenvolvidos! O TGV! o TGV, enfim!
Deixei-o.
O fim da história começamos a sabê-lo agora.

2 de fevereiro de 2012 às 22:19  

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