31.3.12

O grupo de pressão afinal não é Cavaco

Por Ferreira Fernandes

O QUINTO secretário da Embaixada dos EUA em Lisboa, encarregado de estudar os movimentos subversivos, costuma estar n' A Ginginha do Rossio, perscrutando.
Com a segurança os americanos não brincam. Estudam antes de vigiar, vigiam antes que aconteça. Daí, aquele lugar, a meio caminho da Igreja de São Domingos, onde começou o Massacre da Páscoa em 1506, e a estátua de D. Pedro IV, lugar de concentração do MRPP em 1975, dois momentos altos dos levantamentos lisboetas (e o resto é paisagem).
Foi aí, enquanto disfarçava não saber o que fazer com o caroço da ginja, que o quinto secretário deu conta da movimentação de oficiais reformados a caminho da esplanada da pastelaria Suíça. Alves Redol já escrevera sobre a aglomeração, na década de 40, mas julgou-a mera curiosidade pelas pernas das refugiadas.
Mais profissional, o americano informou a sede, em Langley, e deu nome aos bichos. Assim, como disse ontem o DN, a CIA publicou, no seu internético The World Factbook (Almanaque do Mundo), qual o grupo de pressão português mais poderoso. E não, não é Cavaco, é a AOFA. A coisa estendida resulta ser a Associação de Oficiais das Forças Armadas. A CIA revela até o nome do chefão: "coronel Pereira Cracel."
Entre dois abatanados e um café curto (para não serem relacionados com qualquer pressão nunca pedem sumo de laranja natural), os pré-amotinados preparam-se. Felizmente para nós, a CIA está atenta.
«DN» de 31 mar 12

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