Encadernadores, Precisam-se
Por Maria Filomena Mónica
ACABO de regressar de uma sessão de autógrafos no último dia da
Feira do Livro. Apesar de calor, gostei de lá ter ido, não só porque tagarelei
com pessoas simpáticas, mas porque a visita me forneceu a ocasião para comprar
a edição das obras completas de Camilo Castelo Branco. Os seus dezoito volumes
não cabem numa casa onde os livros já ocupam as gavetas da lingerie, o chão da
cozinha e até o sofá-cama dos netos, mas não hesitei. Cá em casa, como se diz
no antigo ditado, quem manda sou eu; já quanto à segunda parte, não me compete,
a mim, pronunciar-me.
Já que estou a falar de livros,
quero, mais uma vez, alertar o governo para o que se passa na Biblioteca
Nacional no que diz respeito ao restauro. Se alguém pensa que tenho influência,
desengane-se. Desde que, em 1990, comecei
a escrever um diário no Público que
menciono o problema, sem que nada aconteça. Há quem diga que é uma
idiossincrasia, mas, como é evidente, não defendo a preservação deste
património apenas por mim, mas em nome de todos nós. E não me venham com o
argumento de que muita coisa está agora digitalizada. Do que falo é do que o
não está, encontrando-se em frangalhos.Reconheço, do alto dos meus quase
setenta anos, que nunca, em lugar algum, fui tão feliz como numa biblioteca, o
que, como é óbvio, não retira legitimidade à reivindicação de que se preservem
os espólios. Até pela sua beleza arquitectónica, a Radcliffe Camera de Oxford surge à cabeça na lista das minhas
preferências institucionais, mas a Biblioteca Nacional de Portugal vem logo a
seguir. Por andar a escrever sobre a actualidade, tenho ido lá pouco, mas
muitos foram os anos em que ali entrava diariamente às 10 da manhã para de lá
sair ás 7 da tarde. Em vez de um psicanalista, optara pela emigração para
épocas pretéritas.
Para além dos livros, outros factores existem que tornam o ambiente de uma biblioteca único: o silêncio da sala de leitura, a descoberta de um documento que há muito procurávamos e o carácter excêntrico dos indivíduos com quem nos cruzamos. Até quando nada tenho a investigar, as minhas deambulações pelo estrangeiro incluem sempre uma biblioteca. Quando, no ano passado, convidei as minhas netas para virem comigo a Nova Iorque, o primeiro edifício onde entraram, não foi a estátua da Liberdade, mas a New York Public Library.
Para além dos livros, outros factores existem que tornam o ambiente de uma biblioteca único: o silêncio da sala de leitura, a descoberta de um documento que há muito procurávamos e o carácter excêntrico dos indivíduos com quem nos cruzamos. Até quando nada tenho a investigar, as minhas deambulações pelo estrangeiro incluem sempre uma biblioteca. Quando, no ano passado, convidei as minhas netas para virem comigo a Nova Iorque, o primeiro edifício onde entraram, não foi a estátua da Liberdade, mas a New York Public Library.
A situação a que se chegou na
Biblioteca Nacional indigna-me tanto mais quanto sei que o governo gasta
milhões em «Observatórios» criados para dar ao Executivo cobertura ideológica
para decisões já tomadas. Como os investigadores não são um lobby nem os jornais esfarelados têm
voz, o restauro tem vindo a ser adiado. Previsivelmente, nem a crise nem a troika
ajudam, embora toda a gente saiba que o restauro dos livros, jornais e
manuscritos da BNP custaria menos do que 0,000001% do que o Estado gastou com a
compra de bancos falidos. No actual momento, o tipo de funcionários de que a
Biblioteca mais necessita é de encadernadores. Sabem quantos existem? Um.
«Expresso» de 19 Mai 12
Etiquetas: FM
2 Comments:
Este comentário foi removido pelo autor.
Sob o manto diáfano de uns factos, a nudez forte da vaidade.
SEMPRE!!!
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