As palavras do bispo
Por Baptista-Bastos
UM ALVOROÇO assanhado tem acolhido as declarações de D. Januário Torgal
Ferreira sobre o Governo e o seu chefe. Afirmou, na TSF, que Portugal
está à deriva e, para acentuar a ideia, disse: "E no fim ainda aparece
um senhor que, pelos vistos, ocupa as funções de primeiro-ministro,
dizendo um obrigado à profunda resignação de um povo dócil e bem
amestrado que até merecia estar no Jardim Zoológico. Conclusão: parecia
estar a ouvir o discurso de uma certa pessoa há cinquenta anos." A
analogia irritou, alguns preopinantes, especialmente Vasco "Pulido
Valente", cada vez mais analista em círculo concêntrico, que apenas
enfada e não estimula.
O bispo das Forças Armadas tem sido um
alvo preferencial de Vasco "PV", asfixiado de dogmas, de mal-entendidos e
de rancores doentios, uma ruína melancólica sem graça e sem grandeza.
Confunde, propositadamente ou não, as coisas e o seu entendimento, e o
assinalável verdete que nutre pelo prelado atinge as raias do
patológico.
Desta feita foi longe demais. No vitupério quase quis
calar o bispo. O que me pareceu excessivo sem deixar de ser perigoso.
Numa altura pesada de ameaças à livre expressão; numa situação na qual
se têm registado sinais e factos censórios, a denúncia de quem discorda é
extremamente delicada. Vasco "PV" ignora as declarações proferidas pelo
próprio cardeal-patriarca, além das de outras figuras da Igreja, que
não têm prendido os adjectivos para castigar este Governo. A questão do
autoritarismo não é uma metáfora, nem um incidente passageiro. O que
está em marcha tem semelhanças com os primeiros tempos do fascismo, cujo
eterno retorno foi recentemente relembrado por Rob Riemen.
O
niilismo moderno oculta-se na ideologia que domina a Europa, e os
aparentes equívocos não são exercícios de estilo ou miniaturas verbais:
constituem peças para aumentar a confusão geral. A Imprensa pouco ou
nada esclarece do que se passa no interior da superfície; as televisões
são caudais de frivolidades; os comentadores somente glosam e, na
maioria, anotadores sem risco e sem reflexão. Alguém tem de sacudir esta
inércia que nos está a liquidar como povo e a destruir, visivelmente, a
nossa democracia - se é que a democracia alguma vez foi nossa.
Quando
D. Januário Torgal Ferreira declara: "Apetece-me dizer: vamos todos
para a rua! Não vamos fazer tumultos, vamos fazer democracia"; diz,
afinal, que nos devemos saber defender, que aprendamos a nos precaver
contra o ovo da serpente. E, sobretudo, nos insurjamos perante as
pequenas limitações de liberdade e de justiça, que nos aplicam em nome
da "inevitabilidade" e do "equilíbrio do sistema." Basta atentarmos nos
discursos oficiais e no acolhimento displicente dado por uma oposição
amolecida, para percebermos as razões profundas das declarações do bispo
das Forças Armadas.
«DN» de 13 Jun 12 Etiquetas: BB
2 Comments:
Caro BB,
O simples facto de no seu artigo fazer alusão à troca de apelidos com que assina o Dr. Vasco Pulido Valente Correia Guedes é sintomático. Confesso que parei de ler o artigo no momento em que vi as "" antes do apelido Pulido Valente. Fiquei enfadado...
na verdade, isto de saber muito, à maneira do Bappptista---Bastos, dá para a estupidez, grande hipocrisia e maior arrogância. esse gajo é um ponto, um parasita .
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