8.6.12

«Dito & Feito»

Por José António Lima
JORGE Coelho, com a sua reconhecida capacidade de formular análises de forma chã e sem rodeios, afirmou há dias: «Quem manda em Portugal, acho que é uma evidência, é a troika». E esclareceu que não estava «a fazer uma crítica, mas uma constatação».
Adiantando mesmo que, no seu entender, a chegada da troika a Portugal «talvez tenha sido um pouco tardia». Podia ter acrescentado que a troika manda e manda bem. Obrigando finalmente o país a entrar nos carris do endividamento externo e a viver de acordo com as suas capacidades – o que implica uma conclusão nada abonatória para os governos PS e PSD que tão incompetentemente conduziram o país nas últimas duas décadas.
Entretanto, Francisco Louçã anuncia que «a única possibilidade de a Europa vencer a austeridade e recusar a recessão é hoje a troika ser vencida na Grécia». E como se derrota a troika? «Com a vitória de um Governo de esquerda» liderado pelo Syriza, o partido radical do seu amigo Alexis Tsipras, nas próximas eleições gregas de 17 de Junho. Só com «esse Governo de esquerda na Grécia é que a Europa poderá enfrentar a senhora Merkel», adianta Louçã.
O problema é que a senhora Merkel olha para a Grécia precisamente da mesma forma que o senhor Louçã olha para a Madeira de Alberto João Jardim. E faz exactamente as mesmas perguntas: Em nome de quê e de quem devemos ser nós a pagar os desvarios despesistas e o endividamento irresponsável de Jardim (ou da Grécia)? Que atitude tomar se, mesmo depois de assinar o programa de ajuda financeira, a Grécia (ou Jardim) continua sem cumprir as restrições a que se comprometeu e a violar as metas a que se obrigou? Que fazer com um Governo como o de Jardim (ou da Grécia) que permite todos os excessos e abusos, incapaz de corrigir o hábito de viver muito acima das suas possibilidades, com o dinheiro que não tem e emprestado por outros?
Acresce que um Governo liderado por Tsipras seria ainda mais devastador do que um Governo chefiado por Jardim. Isolaria a Grécia a nível internacional, bloquearia a ajuda financeira e arrastaria o país, num ápice, para a bancarrota total. Faria da Grécia uma nova Albânia, que fica mesmo ali ao lado. Louçã deveria gostar de ver.
«SOL» de 1 Jun 12

Etiquetas: ,