Exames a sério - Finalmente uma auditoria ao "eduquês"
Por Guilherme Valente
CONSIDERANDO o facilitismo da escola e o simulacro de exames, o que terá surpreendido, durante todos estes anos, o observador menos advertido, foi os resultados terem sido sempre piores. Explicação óbvia: quando se pede zero, obtém-se menos que zero.
CONSIDERANDO o facilitismo da escola e o simulacro de exames, o que terá surpreendido, durante todos estes anos, o observador menos advertido, foi os resultados terem sido sempre piores. Explicação óbvia: quando se pede zero, obtém-se menos que zero.
E foi para que se não descobrisse a efeito do projecto inconfessável, imposto à escola durante todos estes anos que foram desvalorizando os exames, que tentaram acabar com todos eles. Usando «argumentos» tão inteligente e ideologicamente reveladores como os de que os exames ferem a
auto-estima dos alunos, discriminam os mais desfavorecidos e levam os
professores a preocupar-se apenas (?!) em preparar os alunos para as
provas.
Só a opinião pública, progressivamente esclarecida, impediu que acabassem com todos os exames. Vieram, então, as provas cada vez mais fáceis, de «faz-de-conta».
Mas mesmo assim, com exigência mínima, provas ridículas, pressão sobre os professores para «passarem» todos os alunos, as retenções aumentaram sempre. Por uma razão tão óbvia que só os «cientistas» da educação, preparados para perceberem apenas as coisas difíceis, não podem compreender: a descida da exigência gera cada vez mais ignorância, desinteresse e irresponsabilidade nos alunos e explicável desmotivação em muitos
professores.
O facto da exigência, a auto-exigência, a avaliação a sério não serem cultivadas na escola, apresentadas como um auto-desafio, leva as crianças, desde o primeiro dia de aulas, a aprenderem o seu contrário, isto é, a não levarem a escola a sério.
Nesta perspectiva, os exames a sério – sendo um exercício de autonomia para os alunos – são o momento (educativo, diria mesmo ético e cívico) em que, alunos, professores, directores, os próprios pais e, claro, o ME, são confrontados com as suas responsabilidades.
Cada realidade educativa deve ter um regime de exames adequado. Em Portugal, a situação do ensino, a cultura dominante nas escolas, exige a regulação, durante um certo período, de um regime intensivo de exames. Por isso, a imposição da exigência e de exames a sério, com todas as outras mudanças de fundo e instrumentais que serão progressivamente introduzidas, irá reduzir a necessidade de retenções. Como em breve se verá e o «eduquês» teme.
Esqueçamos as tretas, libertemo-nos da moda: os exames a sério não são, pois, para reprovar, mas, pelo contrário, para transitar... sabendo-se. (Havendo casos em que a transição sem o aproveitamento desejável pode ser considerada útil para o progresso do aluno).
Todos temos consciência de que a generalidade dos alunos, na generalidade das disciplinas, só estuda empenhadamente quando a avaliação é a sério. Serão poucos os que investem quando a
passagem é «de borla». E só se aprende quando se estuda, ao contrário
do que é prometido pelos «especialistas» da educação.
O exame é
uma orientação e um desafio de superação para os alunos, os professores e
mesmo os pais. A competição é sempre connosco próprios, deve ser assim
promovida e vivida.
Com o novo ministro da Educação vêm os
primeiros exames a sério. Deveriam ter vindo antes de qualquer outra
medida, para se avaliar o verdadeiro estado da educação.
Mas
esses primeiros exames, convém sublinhá-lo, por serem a sério e não
ter havido ainda tempo para mudar a escola, irão traduzir-se, como só o
Professor Santana Castilho parece não compreender (?!), em resultados
previsivelmente piores.
Devemos, no entanto, estar preparados
para alguma surpresa: é que os alunos portugueses não são menos
dotados, em inteligência, orgulho e vontade, do que os alunos dos outros
países e, como dizia uma das personagens do Frei Luís de Sousa, «a necessidade pode muito». De facto, quando foi noticiado o nome do actual Ministro da Educação, um aluno do 11.º ano disse ao pai: «Temos de estudar, vem aí o Nuno Crato.»
É preciso, pois, aguardar com esperança os efeitos «imediatos» da libertação do «quartel-general» do «eduquês».
«Expresso de 16 Jun 12Etiquetas: GV
2 Comments:
Bom dia, Sr Sr. Guilherme Valente!
Mais uma vez, obrigada pela sensatez desta sua intervenção e pela forma oportuna como a faz.
Tive a oportunidade de lhe falar pessoalmente quando, a propósito do lançamento do QUADROS DA HISTÓRIA DE PORTUGAL, esteve na minha escola.
Sou vossa leitora assídua.
Este blogue continua a integrar a minha lista de blogues preferidos presente no meu.
Cumprimentos da Nazaré Oliveira
RESPOSTA DE GUILHERME VALENTE:
Muito obrigado, Senhora Professora, pelo seu encorajador comentário ao meu artigo.
Na verdade o nosso apoio é ao País e à escola, à mudança que urgia. Pensavam que este Ministro iria deixar tudo na mesma, como os outros. Por isso andam tão nervosos.
Os verdadeiros professores não temem os exames, as avaliações e a exigência e a autonomia, que tem de ser responsabilidade e mais trabalho, antes os desejam, porque vão criar condições para que os Professores se realizem e realizem a sua nobilíssima missão. É para isso e por isso que o nosso Amigo Nuno Crato precisa agora do apoio inteligente e livre dos verdadeiros professores.
Em breve irei lançar um livro em que reúno os muitos artigos que fui escrevendo no decurso de todos estes anos de devastação da escola e de angústia e frustração de tantos professores. Gostaria muito de ver a Senhora Professora no lançamento. Anunciarei oportunamente a data no site da Gradiva, que gostaria fosse visitando.
Atenciosos e amistosos cumprimentos,
Guilherme Valente
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