14.6.12

«Dito & Feito»

Por José António Lima
AINDA sobre a desgraçada telenovela das secretas, vale a pena acrescentar uma constatação e duas evidências.
A constatação é sobre a confrangedora e absoluta ineficácia de supervisão e controlo dos serviços de informação por parte do Conselho de Fiscalização parlamentar, liderado vitaliciamente pelo deputado Marques Júnior. Conselho de Fiscalização que, mais uma vez, nada conseguiu fiscalizar e nada detectou mesmo depois das denúncias públicas das tropelias que por lá se cometiam... Ineficácia, também, dos inquéritos internos determinados pelo SIRP, feitos por funcionários próximos de Silva Carvalho, o investigado, e que nada de relevante apuraram. Só a investigação do Ministro Público conseguiu desvendar a gravidade dos atropelos à lei que se multiplicavam nas secretas – e talvez só por o ex-super-espião Silva Carvalho nem se ter dado ao cuidado básico de eliminar o extenso rol de sms, emails, relatórios e telefonemas que deixou à mercê do MP nos seus vários computadores, tablets e telemóveis. A sensação de impunidade devia ser muito grande e muito alta para tamanho descuido.
As duas evidências referem-se à situação de insustentabilidade em que ficaram o secretário-geral das secretas, Júlio Pereira, e a empresa Ongoing.
Passos Coelho bem pode repetir, como fez no Parlamento, que «o secretário-geral do SIRP agiu com proficiência e lealdade» neste caso. Porque a verdade é que agiu, também, com assustadora incompetência. Debaixo do seu nariz e sem que desse por nada houve abusos de poder, abusos de confiança, desvio de funções nos serviços. As irregularidades, ainda por cima, foram levadas a cabo pelo seu n.º 2, Silva Carvalho – e não se demite nem é demitido?! Que confiança espera Passos Coelho que o país tenha em tal chefe dos serviços de informações?
Quanto à Ongoing, que já era uma estranha nebulosa empresarial, este estendal público de lançar mão a ex-espiões, a relatórios pidescos sobre a vida pessoal de algumas figuras e a outros métodos pouco recomendáveis transforma, de vez, a empresa numa espécie de activo tóxico. Com o qual ninguém desejará ter contactos próximos ou estabelecer relações de negócio. Um activo tóxico ou um passivo tóxico, como se queira.
«SOL» de 8 Jun 12

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