18.7.12

Jornal declara guerra à chuva

Por Ferreira Fernandes
OS EDITORIAIS dos jornais costumam ser lugar para dar lições. Os políticos devem ser honestos, os povos, ordeiros, e as grandes potências, respeitadoras das mais frágeis. 
Um bom editorialista deve ser canhoto, segurando a caneta com a esquerda para que o indicador direito fique livre para, espetado, indicar o caminho certo. Por isso a meteorologia nunca é falada em editoriais. Como exigir que chova no nabal e haja sol na eira? As nuvens, ou a falta delas, são livres e não sujeitas a lições de moral. Daí a admirável (porque inusitada) campanha do jornal britânico The Times, sempre centenário mas cada vez menos conservador, que ontem exigiu em editorial: "Este não é, simplesmente, o tempo que o país quer." Em jeito de: ou isto muda ou partimos para manifestações... 
A campanha do jornal pela melhoria do tempo começou há uma semana e intensifica-se agora que se aproxima a abertura dos Jogos Olímpicos de Londres. O Times começou por confiar no Dia de St. Swithin, 15 de julho, do qual a tradição diz "se é seco, assim será por 40 dias." Choveu. O jornal não desistiu: "Onde o St. Swithin falhou, The Times vai ter sucesso", escreveu-se ontem no editorial. 
Aberto a negociações, o jornal diz que admite que o mau tempo não acabe de repente, mas é duro nos prazos: quando chegarem os jogos, acabaram as brincadeiras. E o editorial remata: "Se houve uma primavera árabe, tem de haver um verão britânico." Como não gostar de um povo assim?
«DN» de 18 Jul 12

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